A falar (Português) é que a gente se entende...

Incrementar o uso da Língua Portuguesa

Nome:
Localização: Carnaxide, Lisboa, Portugal

domingo, julho 24, 2005

Vícios da Linguagem

Todo julgamento exige um critério, um padrão[1] Uma coisa é bonita porque nós temos um padrão de beleza: uma coisa é falsa porque temos um padrão de verdade e essa discorda dele. Assim também, para se falar em erro ou correção gramatical dentro de uma língua, é preciso recorrer a um padrão, um modelo, um critério. A finalidade essencial de uma língua é a comunicação... entre os membros de uma comunidade que se serve dela. Para isso é necessário que o instrumento(a língua) tenha certa uniformidade e, assim sirva eficientemente a toda a comunidade. Toda sociedade humana precisa, portanto, de uma linguagem normal de que todos se sirvam, quer falando, quer escrevendo. E até pensando. A correção consiste na obediência a este padrão ou critério lingüistico. Se ele fosse constantemente uniforme, permanente e sem discordância, não haveria os problemas de todos os dias. Mas um padrão lingüistico de correção é somente um ideal, não uma realidade concreta e nem pode ser fixo e muito menos fossilizado. Há alguns fatores que perturbam a tranqüilidade de um critério lingüístico de correção: 1 - Um fator individual: cada um usa e manipula a língua segundo seu modo e para os seus fins, que ultrapassam o fim primordial da comunicação. Assim, cinco marceneiros, cada um usa da mesma plaina, para o mesmo fim, de modos diferentes: cada um, do seu jeito. E o indivíduo é naturalmente indisciplinado e rebelde às imposições e às normas que o prendem e lhe limitam as liberdades, verdadeiras ou falsas. 2 - Um fator coletivo: embora a língua seja a mesma, os que a usam são diferentes. E se classificam em três camadas culturais: a) a camada inferior: as massas mais ou menos analfabetas usam de uma língua popular, pobre e rudimentar, sempre utilitária. b) a camada média ; uma cultura com o mesmo adjetivo. São pessoas já atingidas pelos benefícios da instrução primária e secundária, pessoas que lêem, não só por necessidade, mas por gosto e interesse; c) a camada superior: representa a língua média entre o que se fala e o que se escreve, uma língua usual, quotidiana mais a língua das melhores obras literárias Uma língua-padrão recebe contribuições de baixo, de cima e do meio, mas se fixa e se torna padrào de acordo com as camadas superiores, culturalmente superiores. Entra, agora, em ação, um elemento disciplinante, uniformizador, aparentemente estático e conservador, realmente dinâmico e renovador, móvel, vivo e atual: a disciplina gramatical. A gramática não nasce abstratamente da cabeça do gramático, nem de conchavos ou de estudos feitos em escrivaninhas, alheados da realidade. A gramática ausculta, observa, registra a língua das camadas superiores. E a ratifica com padrão de correção lingüística. Uma gramática viva que acompanhou a língua portuguesa do século XVI e acompanha a língua do século XX ; uma gramática portuguesa de Portugal e uma gramática brasileira da Língua Portuguesa. Se a gramática nasce assim, torna-se um critério de correção lingüistica. É correto o que está de acordo com a gramática; é errado o que está em desacordo; Indiretamente é correto ou errado o que estiver de acordo ou em desacordo com a língua das camadas culturais superiores. E... o que procura uma gramática com padrão de correção lingüistica? 1- A maior eficiência da língua com instrumento de comunicação, através do seu domínio fácil e geral. 2- A possível uniformidade entre todos os membros tão desiguais de uma sociedade humana: uniformizar é mais do que conservar; É preservar 3- Uma língua que seja um instrumento fácil, acessível, útil, apto e que sirva a todas as camadas da sociedade sem ser retrógrado, desatualizado, emperrado. 4- O aperfeiçoamento da mesma língua, consagrando aqueles melhoramentos que lhe dão as camadas cultas, ratificando ou retificando as contribuições das outras camadas, salvando a língua da desagregação e da morte. 5- Adquirir ou conservar aquelas qualidades fundamentais, indispensáveis a uma língua a) a clareza; b) a racionalidade; c) a exatidão d) a concisão e) a expressividade; f) a beleza... Ou, resumindo num única conclusão: a sua perfeição. Para além da gramática abrem-se os horizontes da estilística. Embora gramática e estilística sejam distintas e diferentes, não são nem separadas, nem muito menos, contrastante. E a gramática, em lugar de atrapalhar ou enfear o estilo, dá-lhe excelente colaboração. E dizer que ainda existe alguém que afirma que a gramática é um empecilho par um bom escritor ...Pergunte isso a Monteiro Lobato: "Acho a língua uma coisa muito sério, Rangel. Como a nossa mãe mental." "A forma perfeita é magna pars numa literatura." "O mau português mata a maior idéia e a boa forma até duma imbecilidade faz uma jóia." "O escritor que escreve mal é um porco imundo, um fedorento, um chulepento (sic)." "Mas seja lá como for, proponho estes pontos:[2] Há erros ocasionais, quase pessoais que não atingem a língua no seu uso comum. Outros são vícios, ofendem as regras usuais da gramática e do estilo e se tornam doenças coletivas, quase epidêmicas. Enquanto as figuras de estilo trazem realce e beleza, os vícios enfeiam o estilo tirando-lhe as duas coisas. É preciso,portanto, evitar os vícios e praticar as virtudes da língua. Apenas como finalidade didática, divido assim; I - Erros de gramática: a) contra a fonética b) contra a ortografia c) contra a morfologia d) contra a sintaxe. II - Erros de estilo: a) contra a clareza b) contra a concisão c) contra a originalidade d) contra a simplicidade e) contra a harmonia f) contra a pureza ------------ Extraído do livro do Prof. J:João Campagnaro In Basilian Portugues

Português - Nossa Língua Portuguesa

Um dos comentários mais freqüentes que ouvimos de nossos alunos, amigos e colegas é "a língua mais difícil do mundo é a nossa - português".O que há de errado em frases do tipo "você não fez nada pra mim comer?" ou "me dê um abraço bem apertado" ou "tu foi lá mesmo?" ou até mesmo "sobe pra cima logo, menino, que já tá pra chover". Aparentemente nada. Não são dessas maneiras que as pessoas, os bons brasileiros, como diria Oswald de Andrade, se expressam nas ruas, casas, escritórios, morros e até em repartições públicas, privadas e federais? Até concordamos que a sintaxe - estudo das relações das palavras no interior de uma oração - da língua portuguesa é meio complicada, com suas terminologias assustadoras, com suas regras quase que indecoráveis etc. Mas se olharmos para a fonética da língua inglesa também teremos razões de sobra para vivermos em desespero. Uma mesma vogal "a" pode ter, em média, cinco fonemas diferentes, dependendo da palavra na qual ela vier inserida (compare-a nas palavras wait, at, boat, cause, an ou consulte o dicionário online da Cambridge em Dicionário Cambridge). Isso tudo está inserido no contexto da gramática. Mas o que vem a ser gramática? Segundo o dicionário Houaiss, quer dizer "conjunto de prescrições e regras que determinam o uso considerado correto da língua escrita e falada ". Em outras palavras, gramática é o conjunto de leis que regem a língua de um povo. Nesse contexto, há, lingüisticamente falando, dois tipos de gramática: a que vem da cultura, do ambiente social do povo, que não se prende às regras, mas vem do ambiente em que o falante desenvolve suas atividades diárias de comunicação e expressão, que é chamada de gramática descritiva. É comum, nesse tipo de gramática, frases do tipo "a gente fizemos tudo que podia", ou, "eu vi ela entrando pra dentro do carro". "Por ser de natureza científica, não está preocupada em estabelecer o que é certo ou errado no nível do saber idiomático", e sim na relação adequado ou inadequado. O outro tipo, que é cheio de regras, nas quais se baseia a variedade padrão da língua, também chamada de norma culta, é a gramática normativa. Esse último é que é a base das provas de língua portuguesa de concursos.Também é o tipo adotado e explicado nas gramáticas e ensinado nas escolas. Aqui, sim, cabe uma preocupação quanto ao que é certo ou errado dentro do campo da comunicação pelo seu caráter totalmente pedagógico, pois agora há um respaldo de renomados escritores de nossa literatura e de dicionaristas esclarecidos, segundo afirmou Bechara em sua Gramática Escolar da Língua Portuguesa. O que propomos nesses encontros com a língua portuguesa é levar os internautas a uma reflexão de como o nosso idioma tem sido falado e escrito por esse "Brasilzão". Evitaremos, portanto, manifestar nossa opinião sobre determinado ponto gramatical; quando o fizermos, assinalaremos com uma nota que demonstrará a nossa posição referente ao assunto em estudo. Então temos um encontro marcado aqui para discutirmos, conversarmos, analisarmos e tiramos dúvidas sobre a nossa língua portuguesa. ------------- Por: Prof. Luiz Mesquita (Lewry)- in Brasil Escola

Linguagem e Persuasão

Podemos partir do princípio de que a persuasão e o discurso são elementos que diferem apenas teoricamente, pois na prática funcionam como um todo indivisível. Para ilustrar esta proposição, podemos tomar de emprestado o exemplo de Saussure, que Ullmann utiliza para defender a indivisibilidade do som e do sentido da palavra, e aplicá-lo ao contexto persuasivo do discurso, comparando-o com uma folha de papel, cujo um lado representaria o discurso e o outro a persuasão, impossibilitando o corte de apenas um dos lados sem a mutilação do outro. A persuasão (per + suadere = aconselhar) possui raízes clássicas, o estudo e o aprimoramento do discurso têm origem na Grécia Antiga que cultivava a democracia. As decisões não eram portanto impostas, necessitando de convencer as pessoas da validade delas utilizou-se o discurso persuasivo, surgindo assim a retórica – "modo de constituir as palavras visando a convencer o receptor acerca de dada verdade." Na Arte Retórica, Aristóteles propõe algumas etapas básicas para a confecção dos discursos persuasivos, são elas: exórdio (introdução), narração (argumentação), provas (elementos em que baseia-se argumentação), peroração (conclusão). A retórica sofre um esvaziamento quando é utilizada apenas para efeito embelezador do discurso, como nos bailes de Quinze Anos e Bodas, esta corrente ganhou popularidade também com o Parnasianismo no século XIX. Já com a retórica moderna, o estudo das figuras de linguagem e das técnicas de argumentação são as características mais enfatizadas. Investigando o mundo clássico, verifica-se a existência de raciocínios discursivos, como o raciocínio apodítico (verdade inquestionável), o raciocínio dialético (permite mais de uma conclusão proporcionando uma aparente abertura do discurso, sendo esta opção de escolha ilusória), o raciocínio retórico (difere do dialético somente porque, na escolha, apela para o lado emotivo, enquanto o outro apela para o lado racional). As figuras de retórica mais utilizadas são a metáfora, que abarca os processos de transferência ou transposição e associação, e a metonímia, que caracteriza-se por usar um termo em lugar de outro: o todo pela parte, o contingente pelo conteúdo, o autor pela obra. O estudo do signo lingüístico contribui para a análise do discurso persuasivo, verificando o seu desdobramento em significante e significado, deduz-se que o signo é arbitrário e simbólico. O estudo das ideologias converge com o estudo dos signos, já que o signo tem a capacidade de representar as idéias constituintes da ideologia. Como exemplo, temos a bandeira da antiga URSS, trazendo a foice e o martelo que revelam a união dos trabalhadores do campo e da cidade para construção de uma nação igualitária condizente com a ideologia socialista. Encontramos o discurso persuasivo embutido de forma mascarada no discurso dominante e no discurso autorizado, que são proferidos pelas instituições como o judiciário, a igreja, a escola, as forças militares etc, revelando o mundo de forma maniqueísta, dividindo-o em bem e mal, certo e errado, verdade e mentira. Dessa forma são sufocados os questionamentos e a livre escolha, já que isto implicaria num posicionamento. Exemplo: o uso da maconha é proibido por lei e implica numa punição. Se o indivíduo faz uso da droga e a lei não toma conhecimento, ele não é punido pelo Estado, mas sofre uma exclusão social por parte das pessoas que convivem na mesma sociedade e estão de acordo com a lei. Ou seja, a cultura que dita as verdades, aprisiona os indivíduos através da persuasão e da ilusão da existência de uma verdade única. As instituições fazem uso do discurso para afirmar o poder. O discurso pode ser seccionado em três modos organizacionais, sendo eles: o discurso lúdico (jogo), que contém uma persuasão moderada não utilizando a forma verbal imperativa e não propondo uma verdade única; o discurso polêmico, que produz uma atmosfera de instigação; o discurso autoritário, propriamente persuasivo enclausurando a verdade de um único ponto de vista não admitindo questionamentos. Para melhor entendimento do discurso persuasivo, propõe-se a análise de alguns elementos: distância, exclusividade do sujeito que fala; modalização, uso do imperativo e da paráfrase; tensão, o falante domina e não permite a abertura de questionamentos; transparência, clareza da mensagem veiculada. A persuasão pode ser verificada em vários discursos como o publicitário, cuja as análises de propagandas nos permitem visualizar; o religioso, onde as orações e as passagens bíblicas nos são bem ilustrativas; o do livro didático, que traz o perfeito esquema da sociedade, como a família constituída por todos os seus membros que convivem harmoniosamente; na literatura, onde o narrador nos revela a sua visão do mundo e dos acontecimentos; o dos justiceiros, como os programas de Gil Gomes e os jornais como Notícias Populares, que trazem o inusitado da vida e por transgredirem fascinam boa parcela da população. Ao final, verificamos a validade da leitura do texto não só como acréscimo nos nossos estudos semânticos, verificando as múltiplas facetas que adquire o vocábulo enquanto operário da empresa do discurso, mas também como um alerta de que a persuasão existe, de forma gritante nos out-doors espalhados pela cidade, nos já conhecidos e familiares discursos políticos que acentuam-se em véspera de eleição, mas principalmente nas entrelinhas onde, mascarada, exerce de forma perigosa o seu objetivo de convencer e corromper. ----------- Compilado de: CITELLI, Adilson. Linguagem e Persuasão. 3ª ed. São Paulo. Editora Ática, 1988. por: Daniela Sirigni - Pós-Graduada, Bacharel e Licenciada em Língua Portuguesa e Literaturas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Mais artigos em: Daniela Sirigni

Língua Portuguesa conquista novos espaços

“A Língua Portuguesa nunca esteve tão florescente”. É esta a opinião da Presidente do Instituto Camões, Simonetta Luz Afonso. Essa responsável reagia, assim, à atribuição do prémio Príncipe das Astúrias à instituição que dirige, na categoria Comunicação e Humanidade. O que, ao seu ver, é um reconhecimento da importância da língua portuguesa no mundo. A escolha, ex aequo com outros institutos estrangeiros de promoção da língua – Goethe, Alliance Française e British Council -, vem mostrar aos falantes do português que esta língua conquista, a cada dia, espaço no mundo. E isto, como mostra o Príncipe das Astúrias, em pé de igualdade com outras línguas, como é o caso do inglês. A reforçar isto o facto de, este ano, ser uma escritora de língua portuguesa, a brasileira Nélida Piñon, a receber o Príncipe das Astúrias na categoria. Uma escolha que, segundo o júri, se deveu à característica instigante da sua narrativa, algo patente na sua extensa bibliografia. O Príncipe das Astúrias está na sua 25ª edição e os escolhidos receberão oficialmente os seus prémios no próximo Outono. Para além de uma significativa quantia monetária, e de uma obra de Juan Miró, os galardoados vêm o seu trabalho reconhecido no espaço hispânico. --------------- In Instituto Internacional Da Língua Porrtuguesa

sábado, julho 23, 2005

Norma Culta, Purismo e Estrangeirismos

Como vimos e tem se propalado, o mau uso da língua afeta as inúmeras situações sociais, mas deve-se considerar que na verdade as situações sociais é que determinam os usos lingüísticos. Os falantes se constituem como tal, usuários de uma determinada variedade lingüística, nas interações verbais de que participam – já mostrava Bakhtin. Se uma criança nasce num meio letrado, a gramática da língua que ela irá internalizar certamente será aquela que mais se aproxima dos padrões de prestígio social. Em nossa sociedade temos, de um lado, acumulação de poder material e simbólico; de outro, uma classe desmobilizada e sujeita aos instrumentos de imposição e dominação cultural, portanto lingüística. Assim, “por maior que seja a parcela de funcionamento da língua infensa à variação, existe, tanto no plano da pronúncia como no do léxico e mesmo da gramática, todo um conjunto de diferenças significativamente associado a diferenças sociais”, observou Bourdieu (1996). Como a língua não é um sistema pronto, acabado, mas está sempre sendo recriada, há forças permanentemente em movimento: forças internas agindo sobre ela (fatores gramaticais) e externas que nela atuam (os fatores sociais, como o contato com outras línguas, por exemplo), abrigando o surgimento de inovações a todo o momento. Essas inovações convivem por um tempo com as formas vigentes, enraizando-se depois e podendo elas próprias ser ultrapassadas com o correr dos anos. Purismo significa desconhecer tais mudanças e aceitar apenas uma língua pura, ornamental e escoimada de “erros”. Purista, portanto, é aquele que não se deixa impressionar “pelo caráter social de um discurso, não aceita as variantes combinatórias da norma objetiva, recusa dobrar-se à pressão estatística do uso”, diz Alain Rey (in Bagno. Norma lingüística, 2001). Parece, assim, que o purista ignora ou faz questão de ignorar todo o conhecimento científico da língua, recusando a realidade do uso. Um exemplo disso seria a insistência no ensino de certas formas anacrônicas, algumas jamais utilizadas no Brasil, como “anos oitentas, noventas” etc. Uma das conseqüências de uma visão purista da língua são os ataques aos estrangeirismos que aterrizaram no Brasil, especialmente depois que a informática aqui se instalou com força, trazendo consigo não só a tecnologia americana mas a língua inglesa, intocada em termos como hardware, software, backup, nick, zip, hacker, e-mail, link, e adaptada em outros como deletar, printar e atachar. A crítica ecoa alarmista só porque as pessoas não se dão conta do fenômeno da variabilidade lingüística. O uso de palavras provenientes de outras línguas é – repetindo – uma questão de aceitabilidade, de disposição às mudanças, na compreensão de que a variação está inscrita na língua, é inerente a ela. A mudança pode ser lenta, mas é inexorável. E não podemos deixar de lembrar que a importação estrangeira é uma das fontes de formação lexical. A língua de aquisição é que varia, dependendo da época. Nos séculos 18 e 19, por exemplo, o francês era predominante. Agora é o inglês. Quem é preconceituoso contra os empréstimos lingüísticos imagina que atualmente eles são mais volumosos ou poderosos do que no passado, a sugerir a decadência da língua, o que não é verdade, conforme a ciência lingüística constata. Essa noção de declínio, aliás, não é peculiar à língua portuguesa. Também em outros países a questão de uma norma aparentemente imutável e isenta de estrangeirismos está muito ligada à idéia de corrupção e empobrecimento lingüístico. As pessoas vêem a quebra das normas, ou o relaxamento de certos cânones lingüísticos, como uma ameaça à integridade ou sobrevivência da língua. Enfim, não só os estrangeirismos mas toda contravenção lingüística parece atentar, no imaginário dos brasileiros, contra a unidade e a força do nosso português. Por tudo isso vale ressaltar a importância da tolerância e da aceitação da pluralidade, sem preconceitos. Devemos nos abrir a novos horizontes, voltados, como bem sublinha Magda Soares, a “uma nova concepção de língua: uma concepção que vê a língua como enunciação, não apenas como comunicação, e que, portanto, inclui as relações da língua com aqueles que a utilizam, com o contexto em que é utilizada, com as condições sociais e históricas de sua utilização” (in Bagno. Lingüística da norma, 2002). --------------- Por: NORMA CULTA, PURISMO E ESTRANGEIRISMOS Como vimos e tem se propalado, o mau uso da língua afeta as inúmeras situações sociais, mas deve-se considerar que na verdade as situações sociais é que determinam os usos lingüísticos. Os falantes se constituem como tal, usuários de uma determinada variedade lingüística, nas interações verbais de que participam – já mostrava Bakhtin. Se uma criança nasce num meio letrado, a gramática da língua que ela irá internalizar certamente será aquela que mais se aproxima dos padrões de prestígio social. Em nossa sociedade temos, de um lado, acumulação de poder material e simbólico; de outro, uma classe desmobilizada e sujeita aos instrumentos de imposição e dominação cultural, portanto lingüística. Assim, “por maior que seja a parcela de funcionamento da língua infensa à variação, existe, tanto no plano da pronúncia como no do léxico e mesmo da gramática, todo um conjunto de diferenças significativamente associado a diferenças sociais”, observou Bourdieu (1996). Como a língua não é um sistema pronto, acabado, mas está sempre sendo recriada, há forças permanentemente em movimento: forças internas agindo sobre ela (fatores gramaticais) e externas que nela atuam (os fatores sociais, como o contato com outras línguas, por exemplo), abrigando o surgimento de inovações a todo o momento. Essas inovações convivem por um tempo com as formas vigentes, enraizando-se depois e podendo elas próprias ser ultrapassadas com o correr dos anos. Purismo significa desconhecer tais mudanças e aceitar apenas uma língua pura, ornamental e escoimada de “erros”. Purista, portanto, é aquele que não se deixa impressionar “pelo caráter social de um discurso, não aceita as variantes combinatórias da norma objetiva, recusa dobrar-se à pressão estatística do uso”, diz Alain Rey (in Bagno. Norma lingüística, 2001). Parece, assim, que o purista ignora ou faz questão de ignorar todo o conhecimento científico da língua, recusando a realidade do uso. Um exemplo disso seria a insistência no ensino de certas formas anacrônicas, algumas jamais utilizadas no Brasil, como “anos oitentas, noventas” etc. Uma das conseqüências de uma visão purista da língua são os ataques aos estrangeirismos que aterrizaram no Brasil, especialmente depois que a informática aqui se instalou com força, trazendo consigo não só a tecnologia americana mas a língua inglesa, intocada em termos como hardware, software, backup, nick, zip, hacker, e-mail, link, e adaptada em outros como deletar, printar e atachar. A crítica ecoa alarmista só porque as pessoas não se dão conta do fenômeno da variabilidade lingüística. O uso de palavras provenientes de outras línguas é – repetindo – uma questão de aceitabilidade, de disposição às mudanças, na compreensão de que a variação está inscrita na língua, é inerente a ela. A mudança pode ser lenta, mas é inexorável. E não podemos deixar de lembrar que a importação estrangeira é uma das fontes de formação lexical. A língua de aquisição é que varia, dependendo da época. Nos séculos 18 e 19, por exemplo, o francês era predominante. Agora é o inglês. Quem é preconceituoso contra os empréstimos lingüísticos imagina que atualmente eles são mais volumosos ou poderosos do que no passado, a sugerir a decadência da língua, o que não é verdade, conforme a ciência lingüística constata. Essa noção de declínio, aliás, não é peculiar à língua portuguesa. Também em outros países a questão de uma norma aparentemente imutável e isenta de estrangeirismos está muito ligada à idéia de corrupção e empobrecimento lingüístico. As pessoas vêem a quebra das normas, ou o relaxamento de certos cânones lingüísticos, como uma ameaça à integridade ou sobrevivência da língua. Enfim, não só os estrangeirismos mas toda contravenção lingüística parece atentar, no imaginário dos brasileiros, contra a unidade e a força do nosso português. Por tudo isso vale ressaltar a importância da tolerância e da aceitação da pluralidade, sem preconceitos. Devemos nos abrir a novos horizontes, voltados, como bem sublinha Magda Soares, a “uma nova concepção de língua: uma concepção que vê a língua como enunciação, não apenas como comunicação, e que, portanto, inclui as relações da língua com aqueles que a utilizam, com o contexto em que é utilizada, com as condições sociais e históricas de sua utilização” (in Bagno. Lingüística da norma, 2002). ---------------- Por: Maria Tereza de Queiroz Piacentini Diretora do Instituto Euclides da Cunha e autora dos livros “Só Vírgula”, “Só Palavras Compostas” e “Língua Brasil – Crase, pronomes & curiosidades” - www.linguabrasil.com.br Mais artigos em: Não Tropece Na Língua

Reforma Ortográfica

Desde 1986, a Academia Brasileira de Letras e a Academia de Ciências de Lisboa desenvolvem o projeto do acordo ortográfico para os sete países de língua portuguesa. O objetivo da reforma é o de unificar a escrita de todo o mundo lusófono que fala português, avaliado hoje em mais de 210 milhões de pessoas. Para redigir o Projeto de Ortografia Unificada é formada uma comissão integrada por cada um dos países de língua portuguesa. O acordo – Assinado em 16/12/1990 pelos ministros da Educação e da Cultura dos sete países de língua portuguesa, em 4/6/1991 foi ratificado pelo Parlamento português. No Brasil, a aprovação da Câmara foi em 14/6/1994 e as regras propostas esperam pela votação no Senado. Com as mudanças previstas no acordo, calcula-se que 1,6% do vocabulário de Portugal é alterado. No Brasil, o impacto é bem menor: 0,45% das palavras têm a grafia modificada. Objetivos – O português é hoje a única das línguas faladas por mais de 100 milhões de pessoas com mais de uma ortografia, com exceção do hindi (em caracteres sanscríticos) e do urdu (em caracteres arábicos). Mesmo o espanhol apresenta dezenas de variações de pronúncia na Espanha e América hispânica, mas apenas uma ortografia. A unificação da língua portuguesa permite sua universalização e facilita a adoção em organismos internacionais. Críticas – A padronização da escrita da língua portuguesa em todos os países deve acarretar um custo considerável devido à necessidade de reformulação de todo material editado em língua portuguesa até hoje, dos livros impressos às versões informatizadas. Contra a reforma ortográfica há também argumentos lingüísticos: a dificuldade de compreensão de um texto de Portugal não se resume às diferenças ortográficas, mas sim às semânticas, isto é, de significados, que não seriam modificados pelo acordo ortográfico. O português é falado em três continentes, em situações geográficas, sociais e substratos lingüísticos diversos, o que torna difícil sua unificação. Regras da reforma Letras mudas – Desaparecem da língua escrita, em Portugal, o "c" e o "p" nas palavras onde não é pronunciado. Exemplos: acção, acto, actor, actual, electricidade, inspector, exacto, colectivo, direcção, abjecção, adopção, baptismo, óptimo, Egipto. Permanecem em palavras como secção, compacto, convicto, egípcio, apocalipse, rapto, óptica. Dupla grafia – É consagrada a dupla grafia para palavras escritas e pronunciadas de maneira diferente em Portugal e no Brasil. Exemplo: aspeto, e aspecto, caracter e caráter, facto e fato, sector e setor, ceptro e cetro, amnistia e anistia, indemnizar e indenizar, dição e dicção, corruto e corrupto. Dupla acentuação – É aceita a dupla acentuação para as palavras que têm acento circunflexo no Brasil e agudo em Portugal. Exemplo: bebê e bebé, bidê e bidé, crochê e croché, matinê e matiné, fêmur e fémur, ônus e ónus, tênis e ténis, Antônio e António, acadêmico e académico, anatômico e anatómico, cômodo e cómodo, efêmero e efémero. Acento agudo – Caem os acentos agudos nas paroxítonas que têm "ei" na sílaba tônica: assembléia, idéia, boléia, passam a assembleia, ideia, boleia. Acento diferencial – Caem os acentos diferenciais para as palavras homófonas. Exemplo: "pára" do verbo parar e "para" preposição; "pêlo" substantivo e "pelo" contração; "pólo" substantivo e "polo" forma arcaica ou regional da contração. Acento circunflexo – Caem os circunflexos das paroxítonas terminadas em "o" duplo: abençôo, enjôo, vôo passam para abençoo, enjoo, voo. Hífen – Permanece o hífen antes das palavras que começam com "h", como anti-higiênico, pré-histórico, anti-heróico e antes das palavras que comecem com a última letra do prefixo, como em contra-almirante, hiper-resistente, pré-escolar, anti-imperialismo. Cai, em Portugal, o hífen em palavras formadas com os prefixos "de" e "in", mesmo nas que começam por "h": desumano, desidratado, inábil, inumano. Trema – Desaparece totalmente o trema: lingüiça, seqüência, freqüência, qüinqüênio, passam a linguiça, sequência, frequência, quinquênio. Alfabeto – As letras "k", "w" e "y" passam a ser oficialmente incorporadas ao alfabeto da língua portuguesa. Os dicionários já registram essas letras; os países africanos possuem muitas palavras escritas com elas. ------------ Leia mais sobre a Língua Portuguesa em: Conhecimentos Gerais

O Português no mundo

O português é uma das línguas oficiais da Comunidade Européia desde 1986, data em que Portugal torna-se membro da instituição. Em 1994, é criada a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que reúne Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e Brasil. Brasil A língua falada no Brasil colonial não acompanha as mudanças ocorridas durante o século XVIII no português falado na metrópole: além de manter-se fiel à maneira de pronunciar da época da descoberta, o português falado no Brasil sofre fortes influências indígenas e africanas e, mais tarde, de imigrantes europeus que se instalam no centro-sul. Isso explica a presença de modalidades fonéticas tão distintas quanto as do nordestino, do mineiro ou do gaúcho, mesmo conservando uma rara uniformidade. A língua portuguesa no Brasil, apesar de falada em uma imensa extensão territorial, manteve sua unidade, variando apenas em questões superficiais de léxico e modalidades de pronúncias regionais. Língua indígena – A língua de contato entre o colonizador e os povos indígenas do litoral é o tupi mais precisamente o dialeto tupinambá. Os jesuítas estudam a língua, traduzem orações cristãs para a catequese e ela se estabelece como língua geral, ao lado do português, na vida cotidiana da colônia. Na metade do século XVIII, o tupi tem sua utilização proibida por uma Provisão Real de 1757. Nessa época, o português se fortalece com o afluxo de grande número de pessoas da metrópole. Com a expulsão dos jesuítas do país (1759), o português fixa-se definitivamente como o idioma do Brasil. Herança tupi – Da língua indígena, o português incorpora principalmente palavras referentes à flora (abacaxi, buriti, carnaúba, mandacaru, mandioca, sapé, taquara, peroba, imbuia, jacarandá, ipê, cipó, pitanga, maracujá, jabuticaba, caju), à fauna (capivara, quati, tatu, sagüi, caninana, sucuri, piranha, araponga, urubu, curió, sabiá), a nomes geográficos (Aracaju, Guanabara, Tijuca, Niterói, Pindamonhangaba, Itapeva) e a nomes próprios (Jurandir, Ubirajara, Maíra). Influência africana – O iorubá, falado pelos negros vindos da Nigéria, deixa o vocabulário ligado ao candomblé (nomes de divindades como Exu, Iansã) e à cozinha afro-brasileira (vatapá, abará, acarajé). O quimbundo angolano fornece palavras da vida cotidiana (caçula, cafuné, molambo, moleque) e termos relativos à escravidão (bangüê, senzala, mocambo, maxixe, samba). Ásia A presença política de Portugal na Ásia hoje limita-se a Macau, mas os portugueses já controlaram regiões mais extensas, que incluíam partes da Índia, da Indonésia, do Sri Lanka e da Malásia. Entre os séculos XVI e XVIII, o português serve de língua franca nos portos da Índia e sudeste da Ásia, estabelecendo a comunicação entre povos de línguas diferentes. Entretanto, o único lugar onde o português sobrevive na sua forma oficial é Goa, na Índia, onde está sendo gradualmente substituído pelo inglês. Em Damão e Diu (Índia), Java (Indonésia), Macau (possessão portuguesa, de população predominantemente chinesa), Sri Lanka e em Málaca (Malaísia) são faladas variedades de crioulo idiomas que derivam de grande simplificação da língua que os origina. Mantêm do português basicamente a base lexical (vocabulário), diferindo muito no aspecto gramatical. África Na África, o português é a língua oficial de cinco países: São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Angola. Nesses países, ele é utilizado na administração, no ensino, na imprensa e nas relações internacionais. Esse português regional distancia-se cada vez mais da língua portuguesa falada na Europa, aproximando-se em muitos casos do português falado no Brasil. As línguas nacionais ou crioulos que existem nesses países – muito diferentes entre si – são utilizados nas situações da vida cotidiana e resultam de uma grande reestruturação do português, provocada pelo contato com as línguas locais. São Tomé e Príncipe – A língua oficial é o português, devido à colonização, mas a maioria da população das ilhas fala hoje mais os dialetos locais forro e moncó, além de línguas de Angola. Cabo Verde – O português é a língua oficial e de instrução, mas fala-se um dialeto crioulo que mescla o português arcaico a línguas africanas. Há duas variedades, a de Barlavento e a de Sotavento. Guiné-Bissau – Dados de 1983 revelam que 44% da população fala o dialeto crioulo, semelhante ao de Cabo Verde, enquanto apenas 11,1% utiliza o português. O restante da população fala inúmeros dialetos africanos. Moçambique – O português é a língua oficial falada por 25% da população, mas apenas 1,2% considera como língua materna. A maioria dos moçambicanos fala línguas do grupo banto. Angola – Em 1983, 60% dos moradores declaram que o português é sua língua materna. A língua oficial convive com o bacongo, o quimbundo, o ovibundo e o chacue. --------------- Leia mais sobre a Língua Portuguesa em: Conhecimentos Gerais

Outra breve História da Língua Portuguesa

A língua portuguesa, que tem como orígem a modalidade falada do latim, desenvolveu-se na costa oeste da Península Ibérica (atuais Portugal e região espanhola da Galiza, ou Galícia) incluída na província romana da Lusitânia. A partir de 218 a.C., com a invasão romana da península, e até o século IX, a língua falada na região é o romance, uma variante do latim que constitui um estágio intermediário entre o latim vulgar e as línguas latinas modernas (português, castelhano, francês, etc.). Durante o período de 409 d.C. a 711, povos de origem germânica instalam-se na Península Ibérica. O efeito dessas migrações na língua falada pela população não é uniforme, iniciando um processo de diferenciação regional. O rompimento definitivo da uniformidade linguística da península irá ocorrer mais tarde, levando à formação de línguas bem diferenciadas. Algumas influências dessa época persistem no vocabulário do português moderno em termos como roubar, guerrear, etc. A partir de 711, com a invasão moura da Península Ibérica, o árabe é adotado como língua oficial nas regiões conquistadas, mas a população continua a falar o romance. Algumas contribuições dessa época ao vocabulário português atual são arroz, alface, alicate e refém. No período que vai do século IX (surgimento dos primeiros documentos latino-portugueses) ao XI, considerado uma época de transição, alguns termos portugueses aparecem nos textos em latim, mas o português (ou mais precisamente o seu antecessor, o galego-português) é essencialmente apenas falado na Lusitânia. No século XI, com o início da reconquista cristã da Península Ibérica, o galego-português consolida-se como língua falada e escrita da Lusitânia. Os árabes são expulsos para o sul da península, onde surgem os dialetos moçárabes, a partir do contato do árabe com o latim. Em galego-português são escritos os primeiros documentos oficiais e textos literários não latinos da região, como os cancioneiros (coletâneas de poemas medievais) da Ajuda, da Vaticana e Colocci-Brancutti, que fazem parte do acervo da Biblioteca Nacional de Lisboa. À medida em que os cristãos avançam para o sul, os dialetos do norte interagem com os dialetos moçárabes do sul, começando o processo de diferenciação do português em relação ao galego-português. A separação entre o galego e o português se iniciará com a independência de Portugal (1185) e se consolidará com a expulsão dos mouros em 1249 e com a derrota em 1385 dos castelhanos que tentaram anexar o país. No século XIV surge a prosa literária em português, com a Crônica Geral de Espanha (1344) e o Livro de Linhagens, de dom Pedro, conde de Barcelona. Muitos linguistas e intelectuais defendem a unidade linguística do galego-português até a atualidade. Segundo esse ponto de vista, o galego e o português modernos seriam parte de um mesmo sistema lingüístico, com diferentes normas escritas (situação similar à existente entre o Brasil e Portugal, ou entre os Estados Unidos e a Inglaterra, onde algumas palavras têm ortografias distintas). A posição oficial na Galiza, entretanto, é considerar o português e o galego como línguas autônomas, embora compartilhando algumas características. Outras informações sobre o galego moderno podem ser obtidas no Instituto de Língua Galega da Universidade de Santiago de Compostela, organismo partidário de uma ortografia galega bastante influenciada pelo castelhano, ou em uma página sobre o reintegracionismo, movimento que defende a adoção de uma ortografia próxima do galego-português antigo e do português moderno. Entre os séculos XIV e XVI, com a construção do império português de ultramar, a língua portuguesa faz-se presente em várias regiões da Ásia, África e América, sofrendo influências locais (presentes na língua atual em termos como jangada, de origem malaia, e chá, de origem chinesa). Com o Renascimento, aumenta o número de italianismos e palavras eruditas de derivação grega, tornando o português mais complexo e maleável. O fim desse período de consolidação da língua (ou de utilização do português arcaico) é marcado pela publicação do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, em 1516. No século XVI, com o aparecimento das primeiras gramáticas que definem a morfologia e a sintaxe, a língua entra na sua fase moderna: em Os Lusíadas, de Luis de Camões (1572), o português já é, tanto na estrutura da frase quanto na morfologia, muito próximo do atual. A partir daí, a língua terá mudanças menores: na fase em que Portugal foi governado pelo trono espanhol (1580-1640), o português incorpora palavras castelhanas (como bobo e granizo); e a influência francesa no século XVIII (sentida principalmente em Portugal) faz o português da metrópole afastar-se do falado nas colônias. Nos séculos XIX e XX o vocabulário português recebe novas contribuições: surgem termos de origem greco-latina para designar os avanços tecnológicos da época (como automóvel e televisão) e termos técnicos em inglês em ramos como as ciências médicas e a informática (por exemplo, check-up e software). O volume de novos termos estimula a criação de uma comissão composta por representantes dos países de língua portuguesa, em 1990, para uniformizar o vocabulário técnico e evitar o agravamento do fenômeno de introdução de termos diferentes para os mesmos objetos. O mundo lusófono (que fala português) é avaliado hoje entre 170 e 210 milhões de pessoas. O português, oitava língua mais falada do planeta (terceira entre as línguas ocidentais, após o inglês e o castelhano), é a língua oficial em sete países: Angola (10,3 milhões de habitantes), Brasil (151 milhões), Cabo Verde (346 mil), Guiné Bissau (1 milhão), Moçambique (15,3 milhões), Portugal (9,9 milhões) e São Tomé e Príncipe (126 mil). O português é uma das línguas oficiais da União Européia (ex-CEE) desde 1986, quando da admissão de Portugal na instituição. Em razão dos acordos do Mercosul (Mercado Comum do Sul), do qual o Brasil faz parte, o português será ensinado como língua estrangeira nos demais países que dele participam. Em 1994, é decidida a criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que reunirá os países de língua oficial portuguesa com o propósito de uniformizar e difundir a língua portuguesa e aumentar o intercâmbio cultural entre os países membros. Na área vasta e descontínua em que é falado, o português apresenta-se, como qualquer língua viva, internamente diferenciado em variedades que divergem de maneira mais ou menos acentuada quanto à pronúncia, a gramática e ao vocabulário. Tal diferenciação, entretanto, não compromete a unidade do idioma: apesar da acidentada história da sua expansão na Europa e, principalmente, fora dela, a língua portuguesa conseguiu manter até hoje apreciável coesão entre as suas variedades. No estudo das formas que veio a assumir a língua portuguesa na África, na Ásia e na Oceania, é necessário distinguir dois tipos de variedades: as crioulas e as não crioulas. As variedades crioulas resultam do contato que o sistema linguístico português estabeleceu, a partir do século XV, com sistemas linguísticos indígenas. O grau de afastamento em relação à língua mãe é hoje de tal ordem que, mais do que como dialetos, os crioulos devem ser considerados como línguas derivadas do português. Na faixa ocidental da Península Ibérica, onde o galego-português era falado, atualmente utiliza-se o galego e o português. Esta região apresenta um conjunto de falares que, de acordo com certas características fonéticas (principalmente a pronúncia das sibilantes: utilização ou não do mesmo fonema em roSa e em paSSo, diferenciação fonética ou não entre Cinco e Seis, etc.), podem ser classificados em três grandes grupos: 1. Dialetos galegos; 2. Dialetos portugueses setentrionais; e 3. Dialetos portugueses centro-meridionais. A fronteira entre os dialetos portugueses setentrionais e centro-meridionais atravessa Portugal de noroeste a sudeste. Merecem atenção especial algumas regiões do país que apresentam características fonéticas peculiares: a região setentrional que abrange parte do Minho e do Douro Litoral, uma extensa área da Beira-Baixa e do Alto-Alentejo, principalmente centro-meridional, e o ocidente do Algarve, também centro-meridional. Os dialetos falados nos arquipélagos dos Açores e da Madeira representam um prolongamento dos dialetos portugueses continentais, podendo ser incluídos no grupo centro-meridional. Constituem casos excepcionais a ilha de São Miguel e a Madeira: independentemente uma da outra, ambas se afastam do que se pode chamar a norma centro-meridional por acrescentar-lhe um certo número de traços muito peculiares (alguns dos quais são igualmente encontrados em dialetos continentais). História da língua no Brasil. No início da colonização portuguesa no Brasil (a partir da descoberta em 1500), o tupi (mais precisamente, o tupinambá, uma língua do litoral brasileiro da família tupi-guarani) foi usado como língua geral na colônia, ao lado do português, principalmente graças aos padres jesuítas que haviam estudado e difundido a língua. Em 1757, a utilização do tupi foi proibida por uma Provisão Real; mas, a essa altura, já estava sendo suplantado pelo português em virtude da chegada de muitos imigrantes da metrópole. Com a expulsão dos jesuítas em 1759, o português fixou-se definitivamente como o idioma do Brasil. Da língua indígena o português herdou palavras ligadas à flora e à fauna (abacaxi, mandioca, caju, tatu, piranha), bem como nomes próprios e geográficos. Com o fluxo de escravos trazidos da África, a língua falada na colônia recebeu novas contribuições. A influência africana no português do Brasil, que em alguns casos propagou-se também à Europa, veio principalmente do iorubá, falado pelos negros vindos da Nigéria (vocabulário ligado à religião e à cozinha afro-brasileiras), e do quimbundo angolano (palavras como caçula, moleque e samba). Um novo afastamento entre o português americano e o europeu aconteceu quando a língua falada no Brasil colonial não acompanhou as mudanças ocorridas no falar português (principalmente por influência francesa) durante o século XVIII, mantendo-se fiel, basicamente, à maneira de pronunciar da época da descoberta. Uma reaproximação ocorreu entre 1808 e 1821, quando a familia real portuguesa, em razão da invasão do país pelas tropas de Napoleão Bonaparte, transferiu-se para o Brasil com toda sua corte, ocasionando um reaportuguesamento intenso da língua falada nas grandes cidades. Após a independência (1822), o português falado no Brasil sofreu influências de imigrantes europeus que se instalaram no centro e sul do país. Isso explica certas modalidades de pronúncia e algumas mudanças superficiais de léxico que existem entre as regiões do Brasil, que variam de acordo com o fluxo migratório que cada uma recebeu. No século XX, a distância entre as variantes portuguesa e brasileira do português aumentou em razão dos avanços tecnológicos do período: não existindo um procedimento unificado para a incorporação de novos termos à língua, certas palavras passaram a ter formas diferentes nos dois países (comboio e trem, autocarro e ônibus, pedágio e portagem). Além disso, o individualismo e nacionalismo que caracterizam o movimento romântico do início do século intensificaram a literatura nacional expressa na variedade brasileira da língua portuguesa, argumento retomado pelos modernistas que defendiam, em 1922, a necessidade de romper com os modelos tradicionais portugueses e privilegiar as peculiaridades do falar brasileiro. A abertura conquistada pelos modernistas consagrou literariamente a norma brasileira. A fala popular brasileira apresenta uma relativa unidade, maior ainda do que a da portuguesa, o que surpreende em se tratando de um país tão vasto. A comparação das variedades dialectais brasileiras com as portuguesas leva à conclusão de que aquelas representam em conjunto um sincretismo destas, já que quase todos os traços regionais ou do português padrão europeu que não aparecem na língua culta brasileira são encontrados em algum dialeto do Brasil. A insuficiência de informações rigorosamente científicas sobre as diferenças que separam as variedades regionais existentes no Brasil não permite classificá-las em bases semelhantes às que foram adotadas na classificação dos dialetos do português europeu. Existe, em caráter provisório, uma proposta de classificação de conjunto que se baseia - como no caso do português europeu - em diferenças de pronúncia (basicamente no grau de abertura na pronúncia das vogais, como em pEgar, onde o "e" pode ser aberto ou fechado, e na cadência da fala). Segundo essa proposta, é possível distinguir dois grupos de dialetos brasileiros: o do Norte e o do Sul. Pode-se distinguir no Norte duas variedades: amazônica e nordestina. E, no Sul, quatro: baiana, fluminense, mineira e sulina. É a seguinte a situação linguística nos países africanos de língua oficial portuguesa: Angola Em 1983, 60% dos moradores declaram que o português é sua língua materna. A língua oficial convive com o bacongo, o chacue, o ovibundo e o quibundo. Cabo Verde sobrevive na sua forma padrão em alguns pontos isolados: em Macau, território chinês sob administração portuguesa até 1999. O português é uma das línguas oficiais, ao lado do chinês, mas só é utilizado pela administração e falado por uma parte minoritária da população. no estado indiano de Goa, possessão portuguesa até 1961, onde vem sendo substituído pelo konkani (língua oficial) e pelo inglês. no Timor leste, território sob administração portuguesa até 1975, quando foi invadido e anexado ilegalmente pela Indonésia. A língua local é o tetum, mas uma parcela da população domina o português. Dos crioulos da Ásia e Oceania, outrora bastante numerosos, subsistem apenas os de Damão, Jaipur e Diu, na Índia; de Málaca, na Malásia; do Timor; de Macau; do Sri-Lanka; e de Java, na Indonésia (em algumas dessas cidades ou regiões há também grupos que utilizam o português). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. _ Almanaque Abril, 20a (1994) e 21a (1995) edições. Editora Abril, São Paulo, Brasil. _ Cunha, Celso e Cintra, Luis F. Lindley (1985), Nova Gramática do Português Contemporâneo, cap. 2, pp. 9-14. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, Brasil. _ Cuesta, Pilar V. e Mendes da Luz, Maria A. (1971), Gramática da Língua Portuguesa, pp. 119-154. Coleção Lexis, Edições 70, Lisboa, Portugal. _ Culbert, Sidney S. (1987), The principal languages of the World, em The World Almanac and Book of Facts - 1987, p. 216. Pharos Books, New York, EUA. _ Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2a edição (revista e ampliada, 1986). Editora Nova Fronteira, São Paulo, Brasil. --------------- Leia outros textos relacionados em: Nossa Língua_Nossa Pátria

Língua Portuguesa na Wikipédia

O Português é uma língua românica falada em Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Macau e Timor Leste. Polémico é o estatuto do português na Galiza. Para parte da sociedade galega e para bastantes linguistas (que falam do continuum galego-português). Com mais de 200 milhões de falantes nativos, o português é a sexta língua materna mais popular no mundo, e a segunda língua latina, só ultrapassada pelo Espanhol. É a terceira língua mais falada no mundo ocidental. O português é conhecido como A língua de Camões (por causa de Luís de Camões, autor de Os Lusíadas); e A última flor do Lácio, devido a um poema de Olavo Bilac. A língua portuguesa se espalhou pelo mundo no século XV e XVI à medida que Portugal criava o primeiro e o mais duradouro império colonial e comercial europeu, estendendo-se do Brasil, nas Américas, até Macau, na China, e ao Japão. Como resultado dessa expansão, o português é agora língua oficial de oito países independentes, e é largamente falado ou estudado como segunda língua noutros. Existem ainda cerca de vinte línguas crioulas portuguesas. É uma importante língua minoritária em Andorra, Luxemburgo, Namíbia, Suíça e África do Sul. Imensas comunidades imigrantes falantes de português existem em muitas cidades pelo mundo fora, como por exemplo Paris na França, e Boston, New Jersey e Miami nos EUA. ----------- Consulte os vários relacionamentos do tema em: Wikipédia

História da Língua Portuguesa "em linha"

O que é a língua portuguesa? O PORTUGUÊS é a língua que os portugueses, os brasileiros, muitos africanos e alguns asiáticos aprendem no berço, reconhecem como património nacional e utilizam como instrumento de comunicação, quer dentro da sua comunidade, quer no relacionamento com as outras comunidades lusofalantes. Esta língua não dispõe de um território contínuo (mas de vastos territórios separados, em vários continentes) e não é privativa de uma comunidade (mas é sentida como sua, por igual, em comunidades distanciadas). Por isso, apresenta grande diversidade interna, consoante as regiões e os grupos que a usam. Mas, também por isso, é uma das principais línguas internacionais do mundo. É possível ter percepções diferentes quanto à unidade ou diversidade internas do português, conforme a perpectiva do observador. Quem se concentrar na língua dos escritores e da escola, colherá uma sensação de unidade. Quem comparar a língua falada de duas regiões (dialectos) ou grupos sociais (sociolectos) não escapará a uma sensação de diversidade, até mesmo de divisão. Unidade Uma língua de cultura como a nossa, portadora de longa história, que serve de matéria prima e é produto de diversas literaturas, instrumento de afirmação mundial de diversas sociedades, não se esgota na descrição do seu sistema linguístico: uma língua como esta vive na história, na sociedade e no mundo. Tem uma existência que é motivada e condicionada pelos grandes movimentos humanos e, imediatamente, pela existência dos grupos que a falam. Significa isto que o português falado em Portugal, no Brasil e em África pode continuar a ser sentido como uma única língua enquanto os povos dos vários países lusofalantes sentirem necessidade de laços que os unam. A língua é, porventura, o mais poderoso desses laços. Diz, a este respeito, o linguista português Eduardo Paiva Raposo: A realidade da noção de língua portuguesa, aquilo que lhe dá uma dimensão qualitativa para além de um mero estatuto de repositório de variantes, pertence, mais do que ao domínio linguístico, ao domínio da história, da cultura e, em última instância, da política. Na medida em que a percepção destas realidades for variando com o decorrer dos tempos e das gerações, será certamente de esperar, concomitantemente, que a extensão da noção de língua portuguesa varie também. [Algumas observações sobre a noção de "língua portuguesa", Boletim de Filologia, 29, 1984, 592] Diversidade A diversidade linguística que o português apresenta através do seu enorme espaço pluricontinental é, inevitavelmente, muito grande e certamente vai aumentar com o tempo. Os linguistas acham-se divididos a esse respeito: alguns acham que, já neste momento, o português de Portugal (PE) e o português do Brasil (PB) são línguas diferentes; outros acham que constituem variedades bastante distanciadas dentro de uma mesma língua. ----------- Continuação em: Instituto Camões

Breve história da Língua Portuguesa

Apresentação Vamos abordar a língua portuguesa sob o ponto de vista histórico, observando a mudança linguística relacionada ao processo mais amplo de modificação sócio-cultural de um povo. Tomando como ponto de partida a variação inerente a todo o sistema linguístico, procurar-se-á demonstrar como variação e mudança são dois processos intimamente relacionados. Considerando que uma língua não se realiza uniformemente em todo o território em que é usada e apresenta variedades de ordem geográfica, social, etária, profissional, situacional, podemos concluir que a variação histórica é decorrência natural desse processo de diferenciação. Assim, o conceito de mudança linguística deve ser encarado como resultado de uma gama de variedades, presentes sempre e em todas as circunstâncias de uso de determinada língua. Essa concepção contraria uma visão purista que considera o uso não-culto de uma língua como responsável pela sua deterioração e esfacelamento. Nesta perspectiva, abordaremos o português no contexto das línguas românicas (francês, espanhol, italiano, entre outras), que constituem a continuação do latim, língua do Império Romano. O conhecimento das condições linguísticas e extra-linguísticas que caracterizam a história da língua portuguesa é de grande utilidade para o ensino, por permitir compreender o dinamismo da linguagem -- a história de uma língua está invariavelmente ligada à história do seu povo, aos acontecimentos de natureza política e social. ------------- Por: Jorge F.Borges - continuação do texto em: MalhaAtlântica

O Galaico-Português na blogosfera

Fazendo a minha habitual ronda pela blogosfera "amiga", deparei-me com um post do nosso prezado colega blogosférico Orlando, o qual me remetia para um portal sobre a Lìngua Galega. ("Link" permanente na coluna da esquerda). Levado pela curiosidade visitei o dito portal e fiquei fascinado com algo que já sabia, mas que jamais me deixou de fascinar: O apêgo dos nossos irmãos Galegos à sua identidade e o enorme esforço que fazem para resistir à feroz tentativa de colonização cultural - e não só - por parte dos Castelhanos. Bem sei que pela sua própria natureza os Galêgos não possuem a violência dos Bascos nem a politização dos Catalães, mas possuem algo que nos une mais a eles do que a quaisquer outros: Uma lingua e culturas tão parecidas, que mais parece uma daquelas trágicas histórias de gémeos separados à força logo após o parto. Para que conste, o Galêgo-português (ou Português-galêgo) é a terceira lingua mais utilizada na blogosfera a nível global. Ao menos que o Mundo Lusófono tenha a consciência desta fantástica realidade. ----------------- Por: JMeq in O Velho Da Montanha

Comentário sobre a criação de uma língua universal

Pois é, é um tema controverso. E eu digo não a uma língua universal, assim como teria dito não a uma moeda única caso tivesse sido pedida a minha opinião e digo não a uma constituição única! Cada país, cada cultura, cada povo tem as suas necessidades próprias. Em Portugal já sentimos negativamente o efeito da moeda única, comparativamente com os outros países somos um dos que pior ficou, não temos tanto poder de compra e nem conseguimos exportar, porque não temos preços competitivos e ainda assim não ganhámos nada de jeito, porque se ganhássemos mais, ainda menos competitivos seriam os preços de exportação. A língua é algo que é nosso e só nosso, sabemos que dentro da nossa língua temos as diferentes pronúncias, mas porque carga de água é que agora havíamos de todos a começar falar o inglês, quanto o português é muito mais bonito??? Já repararam na dimensão da palavra "saudade"? É nossa e só nossa, traduz a nossa vivência nos descobrimentos e no nosso apego ao mar! Em inglês é um "sinto falta de" (miss) sem a entoação do nosso "saudade" intraduzível. Parece q o "sinto falta de" é como se fosse o pão sem sal do nosso sentimento saudosístico. Podem alegar que existe o "soledade" em espanhol, mas isso é uma aproximação do nosso "saudade", que só o português sente e sabe o que significa. Não concordo com regionalismos, somos um país por inteiro e assim devemos continuar a ser, mas também não concordo que percamos a nossa identidade portuguesa em prol de uma amálgama de países europeus. Somos europeus sim senhor, mas acima de tudo continuamos a ser PORTUGUESES. Embora não esteja contente com opções que são feitas e com os últimos governos, que se divertem a roubar descaradamente os contribuintes mais honestos, e não me importasse com uma aproximação dos ordenados europeus (claro, mas com isto quem não concorda?) isso não significa que não goste do nosso país, da nossa língua, da nossa nação e que queira pertencer a uma união que nunca seria homogénea, com tudo igual para todos. Lá diz a velha frase "Todos iguais, todos diferentes!" (Já sei que está ao contrário, mas aqui aplica-se mesmo é desta forma!) ---------- Por: Lisa_pt In Contrariedades

O Ensino da Língua Portuguesa, ontem e hoje

Alguns anos atrás, o ensino da Língua Portuguesa destinava-se a dar ao aluno uma base apreciável no tocante a tão importante matéria. Havia o Latim no currículo escolar (para os chamados ginasianos) e o estudo sistemático dos clássicos brasileiros e portugueses, que consistia em se analisar o texto à luz da gramática. O professor procurava incutir no aluno o gosto pelas Belas Letras, discutindo os diferentes tipos de estilo literário, sob o tríplice aspecto: originalidade, coerência e ênfase. Fazia-se uma seleção rigorosa de autores, a fim de que o discípulo apurasse a sua maneira peculiar de se exprimir, quer na fala, quer na escrita. Naquele tempo, não era qualquer um que produzia versos, não! Antes o estudante teria de conhecer a Arte Poética, e mesmo os que apresentavam tendências modernistas observavam, rigorosamente, a musicalidade, a impecabilidade do texto. O tempo passou. As condições mesológicas (do meio) exigiam que novas expressões surgissem, que os métodos de se escrever se adaptassem ao modernismo, que houvesse uma revolução em tudo. Até aqui estou de acordo, pois nada, neste mundo, pode ficar estacionário. Não me conformo é com o desleixo em que caiu a bela Língua Portuguesa, que hoje está mesclada de palavras estrangeiras, principalmente inglesas, e não se sabe, algumas vezes, se o que o brasileiro fala é Português ou a língua indo-européia do grupo germânico falada nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha! Nos meios de comunicação fala-se “brother” e não irmão. Há dias, encontrei em meus guardados um caderno de Português, escrito com tinta líquida, datado de 1956, que pertenceu a minha esposa Fernanda, quando esta cursava o antigo Normal (hoje Magistério). O seu conteúdo é impressionante. Estudava-se a origem da Língua Portuguesa a fundo, enfatizando que esta é uma continuação da latina. Gostaria de reproduzir apenas um trecho, à guisa de curiosidade: “O território ocupado pelos romanos chamava-se România e compunha-se de várias províncias: Hispânia, Gália, Itália etc. Até o quinto século depois de Cristo houve unidade no mundo romano. Com a invasão dos bárbaros, essa unidade foi partida e cada província passou a ter evolução à parte. O Português é o Latim outrora falado na Lusitânia, região a oeste da Península Ibérica. Pode-se dizer que as línguas neolatinas são fases atuais do Latim popular.” Hoje, pelo que vejo, até a gramática, tal como a conheço (num só volume, austera, com as três partes distintas: fonética, morfologia e sintaxe), não ocupa mais um lugar de relevo no material do estudante. Também os autores consagrados foram trocados, em parte, pelos chamados autores de esquina, que escrevem livros sobre os joelhos e consagram a gíria como forma suprema de expressão. Exemplo negativo tem-se nas revistas ditas “famosas”, as quais lançam mão de frases como “A nível de” e outras, que causam ”congestão cerebral”. Não faz muito tempo, alguém disse assim pela televisão: “O jogador Ronaldinho não participará do próximo jogo porque machucou-se a nível de joelho”. A frase não ficaria melhor se esse alguém dissesse: “O jogador Ronaldinho não participará do próximo jogo porque está com o joelho machucado”? Os modismos idiomáticos fazem que muitas pessoas, inclusive intelectuais, caiam no ridículo! Aos bons professores (há-os, ainda) compete sanar as dúvidas. O caderno mencionado de início é do tempo do Ginásio Independência, que deu base para muitos jovens se formarem em diferentes profissões. Este estabelecimento teve professores de Português que muito se esforçaram para que as normas do bom escrever fossem incutidas nas mentes juvenis. Cito alguns apenas, porquanto a memória sempre trai o homem : Cônego Benedito Profício (também latinista e orador de alta eloqüência); Dr. Antônio Tomás Lessa Garcia ( juiz de direito, que sabia de cor” Os Lusíadas” , de Camões, em seus mais de oito mil versos!);Constante Campos ( jornalista , autor de “Andradas em Revista”) , já falecidos . Na parte relativa à leitura, os professores faziam recomendações especiais: “Lemos para nos formarmos; lemos para nos animarmos a trabalhar e a praticar o bem; lemos por distração; lemos para nos ilustrarmos. ”E ajuntavam: “Há leituras de fundo, leituras de ocasião, leituras de estímulo e leituras de repouso. As leituras de fundo requerem docilidade; as de ocasião requerem mestria; as de estímulo requerem ardor e as de repouso requerem sensibilidade.” Terminando (pois o espaço é limitado), só me resta dizer: - QUEM NÃO DEFENDE A SUA LÌNGUA, O SEU SOLO E A SUA CULTURA, BOM SUJEITO NÃO É... -------------- Por: Sebastião Roberto de Campos - escritor e historiador andradense. In Folha Andradense

Lusofonia / Lusografia na viragem do milénio

INTRODUÇÃO Qual o futuro da Língua Portuguesa da Galiza, Portugal, Brasil, PALOP, Timor? Qual Ortografia, Ortologia, Ortofonia para o futuro Português? Que critérios para a Terminologia da 2ª Língua Românica do mundo, 3ª europeia de comunicação internacional-intercontinental, 5ª mundial? (COLBERT, DURÃO, VALDEMAR) (1). Quais as estratégias de futuro para garantir a unidade estrutural da nossa língua, tanto num sentido diacrónico como sincrónico? (FONTENLA) (2). Como evitar a desagregação da Língua Portuguesa falada em tão alargados espaços? Que futuro, quando já outras línguas europeias de Cultura têm feito a reforma ortográfica, que o Português ainda não fez? São perguntas que intentaremos responder nesta comunicação, com o intuito de o Português consolidar posições como Língua internacional-intercontinental, que serve a um 4% da população mundial e que é Língua oficial, ou de trabalho, de organismos internacionais, como a UE, OUA, OEA, CPLP, OMS, OIT, AIJ, etc. A nossa Língua precisa de uma planificação linguística (language planning) o antes possível para não só consolidar posições face a outras Línguas de Cultura, como o espanhol, francês, alemão, neerlandês, senão para evitar as derivas (drifts) e desagregação da Língua na Galiza, Portugal, Brasil, PALOP, Timor, etc., id est, para manter a sua unidade estrutural e garantir seu futuro, ao serviço da Humanidade toda, nos 5 Continentes do planeta. Isto foi defendido sistematicamente pelos Galegos, na negociação dos Acordos Ortográficos de 1986 (Ortografia Simplificada), realizada na Academia Brasileira de Letras do Rio de Janeiro, de 6 a 12 de Maio de 1986, e de 1990 (Ortografia Unificada), realizada na Academia das Ciências de Lisboa, de 8 a 12 de Outubro de 1990 (FONTENLA) (3), tendo insistido até perante o Prof. Malaca Casteleiro, de Portugal, e o Prof. António Houaiss, do Brasil, assim como governos respectivos, sobre a necessidade de intervir no processo de reforma ortográfica da Língua Portuguesa os PALOP (Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique e S. Tomé e Príncipe), como países lusófonos emergentes, que também deviam intervir no processo de unificação ortográfica, com os outros parceiros da Galiza, Portugal, Brasil, num Acordo Ortográfico que se iniciava apenas como Luso-Brasileiro (CINTRA) (4), com o que os Galegos não concordavam, pois todas as reformas ortográficas do espanhol, francês, alemão, neerlandês tinham em conta todos os países soberanos e até regiões autónomas, em que se falava algum das línguas citadas, como era o caso do Quebeque para os francófonos ou de Flandres para os Holandeses, regiões autónomas do Canadá e da Bélgica, respectivamente. A Galiza, terra mãe e berço da língua comum portuguesa, devia intervir também nesse processo, e assim constituiu-se a correspondente Comissão, que hoje preside o Dr. José Luís Fontenla, após a morte do Prof. Guerra da Cal em 1994, e que interveio na elaboração dos Acordos de 1986 e 1990, acima citados. (Revista NOS)(5). O Acordo Ortográfico de 1986 foi analisado devidamente por Galegos e Portugueses (FONTENLA et alii, ICALP, SANTA MARIA CONDE et alii) (6), assim como também o Acordo Ortográfico de 1990 (FONTENLA et alii) (7), reproduzindo-se as Bases correspondentes da ortografia simplificada, a Introdução ao Anteprojecto de Bases da Ortografia unificada da Língua Portuguesa (1988), Anteprojecto de Bases da Ortografia Unificada da Língua Portuguesa (1988) e Parecer da Comissão para a Integração da Língua da Galiza no acordo da Ortografia unificada sobre as "Bases da Ortografia Unificada" de 1988, da Academia das Ciências de Lisboa, com vista ao reinício de uma negociação comum entre os países lusófonos, a Galiza inclusivè (FONTENLA et alii) (8). E também foi defendida uma Ortofonia ou Ortologia mínima, além de uma Terminologia única, para a nossa Língua (FONTENLA) (9), a fim de garantir a unidade linguística de toda a Lusofonia, sendo a Língua Portuguesa heteronímica per se e apresentando diversas variantes, com derivas (drifts) que podem ser reconduzidas com uma política de língua coerente, como fazem outros países que têm uma língua de cultura importante, e de comunicação internacional-inercontinental, caso do espanhol ou francês, que por certo inspiraram em parte suas reformas ortográficas (e no espanhol até ortológicas e fonológicas) nas reformas ortográficas do Português de 1986 e 1990 como também fizeram os neerlandeses ou os alemães, que já estão a implementar reformas ortográficas de unidade para as línguas respectivas. Ficaram de fora o francês e o português, o que supõe alto preço a pagar por esta negligência, que traz prejuizos para os utentes das duas línguas, e que não poderão por mais tempo ficar sem implementar os acordos de reforma ortográfica, que foram acordados pelos diversos países francófonos ou lusófonos, com vista a ter uma ortografia adequada aos novos tempos e às novas tecnologias, indústrias da língua, etc. A proposta da Ortologia ou Ortofonia mínima (10), que inicialmente fizeram os Galegos, no encontro de Unificação Ortográfica da Língua portuguesa, gerou no Acordo de 1990 a necessidade do VOCT - Vocabulário Ortográfico Comum e de Terminologia - que infelizmente não se realizou ainda, e que permitiu adiar sine dia, o 17 de Julho de 1988, com um Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua portuguesa, o Acordo que devia ser implementado já em 1994, segundo se afirma no Diário da República Portuguesa, de Agosto de 1991. Desrespeitou-se assim a soberania das Assembleias Nacionais ou Parlamentos de Portugal, Brasil, Cabo Verde, que já tinham ratificado o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Por isso, entendemos que a política de reformas ortográficas não deve deixar-se em mãos dos políticos, senão estar em mãos livres das Academias, como acontece aliás no caso do espanhol, em que a Academia Espanhola da Língua, com as suas congéneres de América Latina, reforma a ortografia e acorda sua implementação nas escolas, universidades, etc. sem mais, e nunca admitindo a interferência dos poderes políticos. No caso do alemão a interferência política criou problemas (IGLÉSIAS) (11), no caso do francês, a reforma ortográfica (les rectifications de l'ortographe) do Conselho Superior da Língua Francesa, publicado no Jornal Oficial da República Francesa, em 6 de Dezembro, de 1990, pp. 5 a 19, foi chumbada pelo Parlamento. Temos assim que a Língua Portuguesa da Galiza, Portugal, Brasil, PALOP, Timor, Olivença, etc. (12), ficou ad calendas graecas na sua reforma ortográfica, e na implementação do Acordo Ortográfico, pela acção política do Protocolo citado acima, de 17 de Julho de 1998, assinado na Cidade da Praia, de Cabo Verde, por Chefes de Estado e representantes dos governos dos países lusófonos em causa, acto que juridicamente é duvidoso, por quanto desrespeita o acordado pelos Parlamentos de Portugal, Brasil, Cabo Verde. Não seria melhor ter instado aos restantes países lusófonos que aprovassem nos seus Parlamentos o Acordo Ortográfico de 1990, como assim devia ser, a teor do próprio Acordo já assinado por personalidades designadas pelos governos dos países lusófonos? Por enquanto, só a reforma do neerlandês avançou em 1990, através do "The Nederlandse Taalunie (Dutch Language Union), its aims, objectives and activities" (13), o alemão com o Acordo de Viena, de 1 de Julho de 1996, (Alemanha, Austria, Suiça, Bélgica, Liechstenstein, Hungria, Roménia, e o Tirol meridional italiano), que estão a implementar até ao ano 2005 (IGLÉSIAS) (14) e a "Ortografia de la Lengua Española", com a reforma revista pelas Academias da Língua Espanhola da Espanha e América Latina, EEUU, Filipinas, em 1999 (15). A reforma do espanhol já vigora nas escolas, universidades, mundo editorial, etc. sem problema algum, desde Julho de 1999. ----------- Por: Dr. José Luís Fontenla Continuação do Texto em: Lusofonia

Gilberto Gil defende o "portunhol"

Irmãos lusófonos: Vejam, através da notícia, abaixo, nas mãos de quem continuamos nós, no Brasil, no âmbito do Ministério da Cultura desse país. Nós, que amamos a nossa Língua Portuguesa, nós - brasileiros, portugueses, galegos, angolanos, moçambicanos, guineenses, cabo-verdianos, são-tomenses, timorenses, macaenses e luso-indianos -, que tudo fazemos para ver a nossa língua cada vez mais prestigiada, mais conhecida e mais respeitada mundo afora, para que ela venha a desfrutar um dia do mesmo "status" de língua internacional de que desfrutam o Inglês, o Francês e o Espanhol. Para mim não foi surpresa. Já conhecia as idéias do gajo (como diriam os portugueses). Não é a primeira vez que GG dá as costas ao Idioma de Camões. Lembram-se do mal-estar que ele causou na Galiza, no ano passado, ao recusar-se a fazer pronunciamento em Português, como lhe haviam pedido os galegos ? Na ocasião, eu apoiei os protextos que surgiram na Internet, com uma pequena mensagem a que dei o título de "Cavalgaduras". Pela lógica, a presente mensagem deveria se entitular, então, "Cavalgaduras II". Entretanto, conforme podem observar, acima, achei por bem ser menos contundente no título, para não chocar inicialmente os amigos: optei pelo título de O ministro e suas idéias sobre o "Portunhol". Vejam o "besteirol". --------------- Por: Pedro Kaul, Brasil, (Santa Catarina) 29/01/2005 às 09:25 In Mídia Independente

Somos 200 milhões... a falar a língua de Camões

Tem por finalidade esta secção tratar os mais diversos tópicos relacionados com a Comunidade Lusófona espalhada pelos cinco continentes. Também para a que reside no berço que é Portugal. Somos 200 milhões a falar a língua de Camões e esta a nossa Pátria como o afirmou Fernando Pessoa. Nós os que nos encontramos fora da Mãe Pátria, somos a continuação dos homens quinhentistas que pela força das circunstâncias tiveram que aban-donar um Portugal pobre da época. Embarcaram, sem destino certo, nas caravelas, em procura da Ásia. Caminho aberto pelas naus de Vasco da Gama em 1498. Dois anos depois Pedro Álvares Cabral chega ao Brasil. No Oriente imenso, o Homem Português transforma-o com tecnologias do Ocidente. Faz ligação de pessoas, implanta e transforma o regime alimentar dos povos com a movimentação de plantas e sementes de uns continentes para outros. O Homem Português na Ásia não produziu guerras, actos de pirataria no alto mar, não colonizou povos mas assimilou-se a outras etnias. Fundou núcleos Lusófonos onde se fixou casando com mulheres nativas e criou familias cristãs. Algumas destas comunidades ainda perduram, mesmo dentro delas existirem poucos nomes portugueses. Pouco ou nada, ao longo de anos, os executivos dos Governos de Portugal,por estas, hajam feito algo para que se mantenham vivas. Por vezes ouvimos palavras onde se inserem projectos,pragmatismos que mais não são,coisa igual: a vinha com muita parra e pouca uva. O nosso amor a Portugal tem feito, ao longo de 500 anos, com que nos tenhamos afirmado no Mundo e auferido larga respeitabilidade dentro das comunidades,estrangeiras, onde nos encontramos. E, tem como objectivo, a página “Aqui Maria” na Internet produzir, no futuro, uma estreita ligação entre o Oriente português e a Lusofonia Além de ser tratada a história será também o de divulgar as potencialidades económicas da Ásia que não tardarão e ligações entre o empresariado do Oriente e de Portugal. O oferecer e vender aquilo que Portugal produz é sinónimo de riqueza e com isto o elo estreito e frutuoso que não poderá ser ignorado. Para finalizar envie-nos a sua mensagem para nesta secção ser divulgada. A critica será bem-vinda pelo facto de ser constructiva ajudando a remediar males que virão,depois,por bem. ------------------- Por: Zé Martins

Prefácio Do Livro OnLine "A Língua Portuguesa"

A língua portuguesa tem uma das histórias mais fascinantes entre as línguas de origem européia. Em razão das navegações portuguesas nos séculos XV e XVI, tornou-se um dos poucos idiomas presentes na África, América, Ásia e Europa, sendo falado por mais de 200 milhões de pessoas. Este texto procura inicialmente apresentar um pouco da história desta língua, partindo das raízes latinas na Europa até o português moderno. Em seguida, apresenta a situação atual do português nos diversos países e regiões do mundo onde ele é falado. Este texto não é escrito por nem para especialistas em línguas. Destina-se às pessoas em geral que desejam conhecer um pouco mais sobre a língua portuguesa. Trata-se de um trabalho formado a partir de contribuições recolhidas de diversas fontes e por várias pessoas. Por estas razões, pedimos antecipamente desculpas por eventuais erros e omissões e convidamos todos a acrescentarem seus comentários e sugestões. ------------- In A Língua Portuguesa

Propósito Deste Blog

Este blog "Falar Português", tem como princípio inicial tecer comentários sobre o uso da Língua Portuguesa pelo mundo e transcrever tudo o que for pertinente, encontrado na Blogosfera ou na Internet em geral.