O Ensino da Língua Portuguesa, ontem e hoje
Alguns anos atrás, o ensino da Língua Portuguesa destinava-se a dar ao aluno uma base apreciável no tocante a tão importante matéria. Havia o Latim no currículo escolar (para os chamados ginasianos) e o estudo sistemático dos clássicos brasileiros e portugueses, que consistia em se analisar o texto à luz da gramática. O professor procurava incutir no aluno o gosto pelas Belas Letras, discutindo os diferentes tipos de estilo literário, sob o tríplice aspecto: originalidade, coerência e ênfase. Fazia-se uma seleção rigorosa de autores, a fim de que o discípulo apurasse a sua maneira peculiar de se exprimir, quer na fala, quer na escrita. Naquele tempo, não era qualquer um que produzia versos, não! Antes o estudante teria de conhecer a Arte Poética, e mesmo os que apresentavam tendências modernistas observavam, rigorosamente, a musicalidade, a impecabilidade do texto. O tempo passou. As condições mesológicas (do meio) exigiam que novas expressões surgissem, que os métodos de se escrever se adaptassem ao modernismo, que houvesse uma revolução em tudo. Até aqui estou de acordo, pois nada, neste mundo, pode ficar estacionário. Não me conformo é com o desleixo em que caiu a bela Língua Portuguesa, que hoje está mesclada de palavras estrangeiras, principalmente inglesas, e não se sabe, algumas vezes, se o que o brasileiro fala é Português ou a língua indo-européia do grupo germânico falada nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha! Nos meios de comunicação fala-se “brother” e não irmão.
Há dias, encontrei em meus guardados um caderno de Português, escrito com tinta líquida, datado de 1956, que pertenceu a minha esposa Fernanda, quando esta cursava o antigo Normal (hoje Magistério). O seu conteúdo é impressionante. Estudava-se a origem da Língua Portuguesa a fundo, enfatizando que esta é uma continuação da latina. Gostaria de reproduzir apenas um trecho, à guisa de curiosidade: “O território ocupado pelos romanos chamava-se România e compunha-se de várias províncias: Hispânia, Gália, Itália etc. Até o quinto século depois de Cristo houve unidade no mundo romano. Com a invasão dos bárbaros, essa unidade foi partida e cada província passou a ter evolução à parte.
O Português é o Latim outrora falado na Lusitânia, região a oeste da Península Ibérica. Pode-se dizer que as línguas neolatinas são fases atuais do Latim popular.” Hoje, pelo que vejo, até a gramática, tal como a conheço (num só volume, austera, com as três partes distintas: fonética, morfologia e sintaxe), não ocupa mais um lugar de relevo no material do estudante. Também os autores consagrados foram trocados, em parte, pelos chamados autores de esquina, que escrevem livros sobre os joelhos e consagram a gíria como forma suprema de expressão. Exemplo negativo tem-se nas revistas ditas “famosas”, as quais lançam mão de frases como “A nível de” e outras, que causam ”congestão cerebral”. Não faz muito tempo, alguém disse assim pela televisão: “O jogador Ronaldinho não participará do próximo jogo porque machucou-se a nível de joelho”. A frase não ficaria melhor se esse alguém dissesse: “O jogador Ronaldinho não participará do próximo jogo porque está com o joelho machucado”? Os modismos idiomáticos fazem que muitas pessoas, inclusive intelectuais, caiam no ridículo! Aos bons professores (há-os, ainda) compete sanar as dúvidas.
O caderno mencionado de início é do tempo do Ginásio Independência, que deu base para muitos jovens se formarem em diferentes profissões. Este estabelecimento teve professores de Português que muito se esforçaram para que as normas do bom escrever fossem incutidas nas mentes juvenis. Cito alguns apenas, porquanto a memória sempre trai o homem : Cônego Benedito Profício (também latinista e orador de alta eloqüência); Dr. Antônio Tomás Lessa Garcia ( juiz de direito, que sabia de cor” Os Lusíadas” , de Camões, em seus mais de oito mil versos!);Constante Campos ( jornalista , autor de “Andradas em Revista”) , já falecidos . Na parte relativa à leitura, os professores faziam recomendações especiais: “Lemos para nos formarmos; lemos para nos animarmos a trabalhar e a praticar o bem; lemos por distração; lemos para nos ilustrarmos. ”E ajuntavam: “Há leituras de fundo, leituras de ocasião, leituras de estímulo e leituras de repouso. As leituras de fundo requerem docilidade; as de ocasião requerem mestria; as de estímulo requerem ardor e as de repouso requerem sensibilidade.”
Terminando (pois o espaço é limitado), só me resta dizer:
- QUEM NÃO DEFENDE A SUA LÌNGUA, O SEU SOLO E A SUA CULTURA, BOM SUJEITO NÃO É...
--------------
Por: Sebastião Roberto de Campos - escritor e historiador andradense.
In Folha Andradense
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home