A falar (Português) é que a gente se entende...

Incrementar o uso da Língua Portuguesa

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Localização: Carnaxide, Lisboa, Portugal

domingo, fevereiro 19, 2006

Quero falar, ler, ouvir e escrever português

........ Entre os factores que mais põem em risco o futuro de Portugal como nação distinta e milenária, destaca-se o desprezo que os governantes dedicam à língua portuguesa. E não só. Os maus tratos à Língua começam na escola do ensino básico. Continuam no ensino secundário e prolongam-se no ensino superior. Os programas são deficientes. Muitos professores não se empenham. Os alunos não são estimulados para a apreciação e uso correcto do idioma nacional. Não se incentivam os estudantes a lerem persistentemente as boas obras da literatura portuguesa e a fazê-lo, sempre, na companhia do dicionário. Seguramente que a leitura dos clássicos é a melhor forma de aquisição de vocabulário, de apreensão da construção gramatical e de aquisição do sentido estrutural do pensamento aquisição melhor conseguida se acompanhada pelos estudos da filosofia e da matemática. Nos estabelecimentos escolares, nos jornais, nas rádios, nas televisões, nos diálogos dos cidadãos, instalou-se o hábito de tudo facilitar sincronizado com o repúdio dum mínimo grau de exigência e de rigor. Há por aí instalado um desarranjo intelectual que comporta a tara da condescendência absurda pelas asneiras gramaticais; a tácita aceitação dos erros ortográficos; a mania da exaltação (ao que chegámos!) da praga dos vocábulos sincopados introduzida pelo uso dos telemóveis; o uso desenfreado da aberração linguística representada pelos neologismos e estrangeirismos; a petulância idiota de certa gente em misturar termos estrangeiros (sobretudo, ingleses) nos títulos, nos textos publicados e nas falas; a descabida e insensata utilização das denominações inglesas das empresas, dos produtos e dos equipamentos. Se a tudo isto juntarmos a inércia dos governantes que, falando mal e escrevendo pior, nada fazem no sentido de incrementar o bom uso da Língua e de dar forte impulso à sua expansão nos países lusófonos e pelo Mundo, fica definida uma situação que bem podemos classificar de descalabro total. Certamente que fere a sensibilidade de qualquer português apegado aos valores pátrios ver, por exemplo, a palavra Welcome impressa nos tapetes (de fabrico português) das entradas das habitações. Arrepia ouvir um ministro afirmar que os portugueses "hadem" fazer. Dá para entristecer e desalentar ouvir um professor universitário, mestre de Direito, ex-chefe de partido e comentador celebérrimo de televisão, repetir a todos os instantes: "última da hora". Torna-se insuportável escutar as banais intervenções, em mau português, de ministros e de outras figuras públicas recheadas de termos ingleses e franceses. Chega a ser ultrajante ver e ouvir o presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, em Portugal, a pronunciar discursos em inglês. Ainda recentemente tal aconteceu no palácio de Belém no acto de condecoração de Bill Gates. Entretanto, desencadeiam-se programas e acções de aprendizagem do inglês nas escolas de todos os graus de ensino. Simultaneamente, o Ministério da Educação toma a iniciativa de arredar os estudos da língua e literatura portuguesas dalguns escalões dos currículos escolares. Pior, ainda, faz-se de forma idiota e subserviente a apologia da língua inglesa ao ponto de a consagrar como opção prioritária abrangente dos diferentes níveis escolares. A evolução da informática serve de pretexto. Mas, aqui, é preciso dizer que se perderam oportunidades e se descurou a importância do Português como linguagem de programação de computadores. Nem sequer houve a lucidez de atender à circunstância de a nossa língua ser falada por aproximadamente duzentos e cinco milhões de indivíduos. Tão-pouco existiu o cuidado de atender ao previsível aproveitamento de um tão vasto mercado internacional certamente induzido pelo uso do português à escala planetária. Por este caminho de apatia, de desleixo, de desvalorização da Língua e de abastardamento do orgulho nacional, não tardará muito que percamos a nossa autêntica identidade de portugueses. Depreende-se das intervenções da classe política que está traçada (melhor dizendo: decretada) a preponderância do Inglês na sociedade portuguesa. Logo, o Português tenderá a tornar-se uma língua de segunda escolha ou um adulterado dialecto regional. Pressinto que, nessa altura, ninguém me entenderá quando falar ou escrever Português. Para já, em plena degenerescência. A situação é preocupante. ........
Brasilino Godinho Mensagem enviada para portugalclub [a] cardigos.com.br