A falar (Português) é que a gente se entende...

Incrementar o uso da Língua Portuguesa

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Localização: Carnaxide, Lisboa, Portugal

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Lusofonia : Agonia ?

Na abertura do 2º Colóquio Internacional da Lusofonia da SLP Sociedade da Língua Portuguesa, em Outubro de 2003 em Bragança, tentei alertar contra os fundamentalistas de várias cores que visam preservar uma visão estática da língua portuguesa que se opõem a quaisquer inovações da língua e às alterações que o novo dicionário da Academia de Ciências veio introduzir. Por outro lado começam a existir movimentos activos que podem levar a que o Português na sua variante Brasileira se emancipe. Creio ser apenas uma questão de tempo (dada a ausência duma política da Língua por parte de Portugal) para que o Brasileiro seja declarado língua e nessa altura o Português (europeu) estará condenado pois os 10 milhões de habitantes mais uns tantos milhares na Galiza (variante Galega) não serão suficientes para fazer frente a uma língua autónoma como a Brasileira com cerca de 200 milhões de falantes. Das ex-colónias portuguesas não se poderá contar com muito apoio dado o exíguo número de pessoas (para além das elites políticas dominantes) que domina a língua de Camões. Assim, a verificar-se (e creio ser só uma questão de tempo) a emancipação da variante brasileira a língua portuguesa europeia estará condenada a uma morte lenta associada a uma rápida diminuição e envelhecimento da população de Portugal que aponta para uns meros 8,7 milhões em 2050 contra os actuais 10,7 milhões. Quanto a Bragança encontrei aqui formas quase medievais da língua que perduraram a todos os níveis da população, independentemente da sua classe socioeconómica e da sua educação, mas de que constato uma quase vergonha dos seus falantes por acharem que não falam português correcto, o que aliado à desertificação humana desta região tende igualmente a acabar. De 2002 em diante os Colóquios têm-se realizado em Bragança, ainda na base da descentralização, mas sobretudo devido à insularidade em termos culturais. Portugal, como toda a gente sabe, é um país macrocéfalo; existe Lisboa e o resto continua a ser paisagem. É muito raro os locais do interior, os locais mais remotos como Bragança, poderem ter acesso a debates de considerável importância sobre o futuro da língua. Estes colóquios são a única coisa que se tem feito concreta e regularmente em Portugal nos últimos cinco anos sobre esta temática. Os Colóquios são independentes de quaisquer forças políticas ou institucionais e asseguram essa sua independência através das inscrições dos participantes contando com o apoio, ao nível logístico, da autarquia que fez a sua aposta cultural na divulgação e realização deste importante evento anual. Estes Colóquios podem ser marginais em relação às grandes directrizes aprovadas nos gabinetes de Lisboa, mas na prática têm servido para inúmeras pessoas aplicarem as experiências doutros colegas à realidade do seu quotidiano de trabalho com resultados surpreendentes e bem acelerados como se acabou de ver na edição de 2005.Agora, volvidos mais três anos quando nos aproximamos do V Colóquio Anual da Lusofonia iremos debater o genocídio da língua portuguesa na Galiza, estropiada e castrapada por uma Academia que decidiu reinventar a língua, como se ela tivesse nascido do nada ou pior, como se ela derivasse do castelhano.Subordinada ao título «Do Reino da Galiza até aos nossos dias: a língua portuguesa na Galiza», o Colóquio da Lusofonia 2006 irá ter como tema central o problema da Língua Portuguesa na Galiza: como se impõe uma língua oficial artificial, que não é falada pela maior parte dos habitantes, análise da situação, desenvolvimentos nos últimos anos, projectos e perspectivas presentes e futuras. Os desafios que se põem neste Colóquio são grandes. A divisão na Galiza é enorme entre lusistas, reintegracionistas e todos os outros. Será que vão conseguir finalmente criar uma plataforma abrangente que permita o entendimento entre algumas das várias correntes de pensamento? Ou irão continuar na sua guerrilha contra tudo e todos que não estejam de acordo com as teorias que professam. A importância deste debate é enorme como atrás se inferiu. Ou o Galego é Português mesmo que seja uma variante, como o Brasileiro ou então o que é? Se for uma língua própria teremos todos de nos cuidar, porque o Brasil com mais razão e há mais tempo pode igualmente fazê-lo.Cremos que esse não será o caminho. O Português, ao contrário do que muitos pensam não tem pernas para andar sozinho com uma população entre 9 e 15 milhões se incluirmos os expatriados, e tem de contar sobretudo com o número de falantes no Brasil, na Galiza, em Angola, Moçambique, Timor, Cabo Verde, S. Tomé, Guiné-Bissau e por toda a parte onde haja comunidades de lusofalantes. Os Acordos Ortográficos, se alguma vez virem a luz do dia do que pessoalmente duvido, podem ser um instrumento, mas é o povo quem mais ordena e o povo não segue os Acordos. O que é preciso é que o povo se entenda, que os portugueses não se armem em detentores únicos da língua ou como temos ouvido como aqueles que falam o Português puro. Os tempos não estão para purezas nem para puritanismos, porque o português que se fala em Portugal varia da Bragança dos Colóquios aos Açores onde vivo actualmente. Todos eles falam Português e todos eles falam diferente de Norte a Sul, de Leste a Oeste. São lusofalantes todos aqueles que têm o Português como língua seja ela língua-mãe, língua de trabalho ou língua de estudo, vivam eles no Brasil, em Portugal nos PALOPs, na Galiza, em Macau ou em qualquer outro lugar. Sejam eles nativos, naturais, nacionais ou não de qualquer um dos países lusófonos. A uniformização linguística, a redução a um mesmo denominador comum é castrante e limitadora. Ela inibe e retrai a natural expansão da língua e do conceito mais lato e abrangente da Lusofonia que professamos. O espaço dos Colóquios Anuais da Lusofonia é um espaço privilegiado de dialogo, de aprendizagem, de intercambio e partilha de ideias, opiniões, projectos por mais díspares ou antagónicos que possam aparentar. É esta a Lusofonia que defendo pois creio que é a única que permitirá que a Língua Portuguesa sobreviva nos próximos duzentos anos sem se fragmentar em pequenos e novos idiomas e variantes que, isoladamente pouco ou nenhum relevo terão. Se aceitarmos todas as variantes de Português sem as discriminarmos ou menosprezarmos, o Português poderá ser com o Inglês uma língua universal colorida por milhentas matizes da Austrália aos Estados Unidos, às Bermudas e à Índia. O Inglês para ser língua universal não precisou de Acordos Ortográficos mas continuou unido com todas as suas variantes.
- - - - - - Dr. Chrys Chrystello Organizador dos Colóquios da Lusofonia In Jornal Primeiro de Janeiro