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Incrementar o uso da Língua Portuguesa

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Localização: Carnaxide, Lisboa, Portugal

terça-feira, janeiro 17, 2006

Autobiografia

Nasceu em S.Martinho de Anta, Trás-os-Montes. Casado. Altura : 1,77 m. Magro como um espeto. Perfil de contrabandista espanhol. Médico. Anda que se desunha. Fuma, sobretudo quando está com amigos ou quando escreve. Gostava de ser pintor e chegou mesmo a pintar um auto-retrato, que atirou ao mar, no Portinho da Arrábida. Vai muito ao cinema e ri-se perdidamente com os desenhos animados. Só ajudou uma vez a mulher a enxugar a louça, e há dez anos que lhe mata o bicho do ouvido com essa avaria. Na sua biblioteca, pequena porque não cabem mais livros na exígua casa da Estrada da Beira, em Coimbra, onde mora, contém o essencial das principais leituras do mundo. Em pintura moderna admira Picasso, Siqueiros, Orozco e Portinari. Tira o chapéu a Euclides da Cunha e Machado de Assis. Gosta de música, particularmente de Bach. Mas do que gosta a valer, é de calcorrear os montes do seu Douro transmontano e os pauis dos campos do Mondego à caça de perdizes e de narcejas. Nunca fez uma tratantice a um colega de letras. Em compensação, têm-lhe feito muitas. Entre os autores que venera : Dostoievski, Proust, Cervantes, Unamuno e Melville. É contra os caçadores de autógrafos, contra os álbuns, contra a publicidade. O contra é mesmo o seu forte. Gosta da solidão, e preza muito quem lha respeita. Não acredita em fantasmas. Anda sempre a morrer, e não há ninguém que gaste mais energia. Se pudesse recomeçar a vida gostaria de ser mais poeta ainda. Um dos seus títulos de glória é ter passado a adolescência no Brasil (Leopoldina Minas). Vive pelos nervos. Não há ninguém mais amigo dos seus amigos, e tão mal compreendido por eles. A arte para ele não é uma ambição : é um destino. A sua terra é para ele como para uma planta : sítio de deitar raízes. Tinha 20 anos quando escreveu o primeiro livro, que se chama Ansiedade. Poetas brasileiros que admira : Manuel Bandeira, Cecília, Ledo Iva. Romancistas brasileiros que admira : Graciliano, Lins do Rego e Jorge Amado. Gosta dos deuses pagãos, a quem tem cantado nas suas Odes. Mas não conta com eles para o dia da morte, que teme como uma noite sem madrugada. ............ in "Miguel Torga - Fotobiografia"