A falar (Português) é que a gente se entende...

Incrementar o uso da Língua Portuguesa

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Localização: Carnaxide, Lisboa, Portugal

quinta-feira, janeiro 19, 2006

"Porque o oceano quando quer, transforma qualquer barco em escaler"

............. E, o Cacique, Porque era homem alto E espadaúdo, De porte e modos agigantados, Olhou o mar por todos os lados E não divisou navios Ou barcos destroçados, Porque o mar, quando se rebela, Ofusca o brilho da mais brilhante estrela E, à sua volta, destroi e devora tudo. Os segredos, O estranho Guardava escondidos Entre mistérios e medos, No sono e no sonho dormidos Na cama da areia batida No areal da praia desconhecida. Aguardou Que acordasse E com ele falasse Ou tentasse, Em suma, Embora soubesse Mas não o dissesse, Que ninguém fala se não sabe O falar de quem não entende E, por não falar coisa alguma, Toda a conversa suspende. E, porque o sol se escondia Num horizonte perdido, O náufrago acordou de vez E, com um sorriso de alegria, Pensou e disse : - Sou português ! E o índio não entendia. Mas, na expectativa do confronto, Rogou que tudo repetisse E falasse tudo de novo E, outra vez, E, de pronto, O náufrago não se contradisse E repetiu e disse : - Sou português ! E o índio não entendia. Foi quando a filha, Sorrindo, Retornou à vereda, Que era estrada e trilha, Agora, com ares de alameda, Donde saíra para adentrar a mata E voltar, linda e bela, Com a orquídea, colhida, De que fora à cata, Na mata virgem da floresta Onde a abelha o mel requesta, Os animais e os pássaros e as plantas e as flores Fazem corte à natureza Exuberante Que enaltece A beleza Luxuriante Que recende do mato E enlouquece. Saltitando, Com réstias de sol Afagando o seu regaço, Exalando odores Da terra dadivosa, Sobraçando flores - A orquídea e a rosa Que a mesma coisa são, Carregando amores Ocultos no coração, Estendeu o braço E alceou a mão E deu o decisivo passo Naquele caminho que foi estrada e rua E, no abraço, Que o náufrago enlaçou, Expontaneamente E, por vontade sua, Disse e exclamou : - Sou tua ! Esta troca de alianças Selou destinos, Criou raças, Renasceu esperanças, Abriu caminhos, Lastreou rastros, Firmou pegadas indeléveis E teve por testemunho, Com escritura Lavrada de próprio punho, O mar, a terra, o céu, A mata virgem da floresta E tudo aconteceu Num dia que não se soube Mas que houve, Numa hora que não se ouviu Mas que existiu, Num templo a céu aberto, Não importa onde e qual seja Mas era mais amplo Que a mais ampla igreja. E foi assim que neste grandioso palco A céu aberto e ao relento Surgiu o primeiro casamento, O primeiro enlace humano, No lado de cá do mar-oceano, Sem ressalva ou qualquer rasura Conforme lavrado ficou Na mais antiga escritura. .............. In "O Silêncio Do Mar Salgado" Vasco dos Santos