A falar (Português) é que a gente se entende...

Incrementar o uso da Língua Portuguesa

Nome:
Localização: Carnaxide, Lisboa, Portugal

domingo, outubro 30, 2005

Apelo à Lusofonia

Lusófonos ! No seguimento da petição dirigida à FIFA para que remodelasse o site sobre o Alemanha_2006, de modo a incluir a Língua Portuguesa como uma das opções de escolha de idioma, foi criada outra petição no site Petition OnLine, desta vez chamando a atenção das Nações Unidas para o mesmo efeito. A Língua de Camões é Língua Oficial nos países constituintes da CPLP - Comunidade De Países De Língua Portuguesa, falada por perto de 200 milhões de pessoas; só este facto incontornável seria o bastante para que todos os organismos de carácter universalista se dignassem a respeità-la, e dar-lhe as condições e a visibilidade a que tem direito; é um direito inalienável, que toda a Comunidade Lusófona deve defender e fazer respeitar. Para além disso, como se não bastasse, é preciso ter em conta, e afirmar permanentemente, que ela também é falada em muitos outros países não Lusófonos, onde existem grandes comunidades de falantes da língua, quer eles sejam portugueses, brasileiros, guineenses, cabo-verdianos, são-tomenses, angolanos, moçambicanos, timorenses, galegos, macaenses ou goeses; e estes, estando ou não deslocados, continuam a pertencer a esta grande Comunidade De Língua Portuguesa. Como exemplo, refiro os países seguintes :
África Do Sul300.000
Alemanha170.000
Argentina32.000
Austrália12.000
Bélgica70.000
Canadá415.000
Espanha70.000
E. Unidos2.280.000
França808.000
Grécia2.500
Holanda11.000
Israel13.000
Itália16.800
Japão170.000
Luxemburgo150.000
Paraguai325.000
Reino Unido100.000
Suécia7.000
Suiça157.000
Uruguai15.000
Venezuela400.000
Zimbabwe2.000
(números aproximados - meramente indicativos) Com esta listagem não esgotamos a presença da Língua Portuguesa no mundo; mas é uma demonstração clara e inequívoca de que a Língua Portuguesa é uma língua universal de facto, e também o deve ser de direito. Por tudo isto, ela deve passar a ser uma das línguas oficiais nas Nações Unidas. Não se acanhe, dê mais força à razão ! Não desdenhe, e assine a petição ! Endereço da petição : Português Nas Nações Unidas

quarta-feira, outubro 26, 2005

IPLB Dá Incentivos Financeiros Para Edição No Brasil

EDIÇÃO NO BRASIL O IPLB, através de concurso anual, concede incentivos financeiros para a edição de obras de autores portugueses e de autores africanos de língua portuguesa, no Brasil. Destinatários do apoio Editoras sediadas em território brasileiro;Centros universitários que possuam estatuto de editora, ou que estejam associados a editoras para a publicação de obras em regime de co-edição. Candidaturas Só há uma candidatura por ano.A data limite para a recepção das candidaturas termina no dia 30 de Novembro.Todas as candidaturas recebidas após o 30 de Novembro transitam para o ano seguinte.A publicação da obra deverá decorrer no ano seguinte ao da candidatura. Características do apoio São objecto de apoio as edições de obras de autores portugueses e de autores africanos de língua portuguesa nos domínios da ficção, poesia e ensaio;O apoio a conceder consiste num subsídio a fundo perdido, pago através de cheque bancário à entidade editora;O IPLB comparticipa, exclusivamente, os custos de edição. A comparticipação corresponderá a uma percentagem que pode variar entre os 30 e os 60 por cento do custo total da edição;O pagamento do subsídio é feito em duas parcelas: a primeira, equivalente a 60% do total concedido, após aprovação da candidatura, a segunda, equivalente aos remanescentes 40%, mediante a recepção de três exemplares da obra publicada. Documentos a integrar o dossier de candidatura Formulário, fornecido pelo IPLB, devidamente preenchido e assinado;Contrato de direitos de autor ou documento que faça prova de que o autor (ou representante legal) autoriza a edição;Cópia autenticada do registo comercial, acto constitutivo, estatuto ou contrato social em vigor;Prova de inscrição no caderno de pessoas físicas ou cadastro geral de contribuintes;Prova de regularidade fiscal;Catálogo da editora actualizado. Compromisso do editor Devolver, devidamente assinado, o contrato que formaliza o apoio.Imprimir na contra-capa da obra os logótipos do IPLB e do Ministério da Cultura, acompanhados da inscrição: ¿Obra apoiada pelo Instituto Português do Livro e das Bibliotecas¿;Enviar ao IPLB três exemplares da obra publicada.Confirmar a data de edição até ao dia 30 de Maio.Comunicar ao IPLB qualquer alteração à candidatura. Critérios de avaliação das Candidaturas* Importância do autor no panorama literário português;Relevância para a difusão da cultura portuguesa;No caso de obras de autores clássicos será tida em consideração a edição portuguesa adoptada. *Sem prejuízo da aplicação dos seguintes critérios, cada candidatura será apreciada pela sua importância e pertinência. Anualmente podem ser introduzidos novos critérios de avaliação, dependentes das orientações estratégicas aplicáveis. ---------------- Para mais informações, consultar o Site da Instituto Português Do Livro E Das Bibliotecas

sábado, outubro 22, 2005

Português em escola virtual

O Governo português vai criar uma Escola Virtual, que estará disponível online a partir da próxima segunda-feira. Trata-se de um projecto inovador, assente no ensino à distância, que visa promover a língua e cultura portuguesas no Mundo e proporcionar aos jovens o acesso a recursos de auto-aprendizagem através da Internet. Para aceder à Escola, os portugueses residentes no estrangeiro deverão possuir um Vale de Compra, fornecido pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas ou pela Caixa Geral de Depósitos. Para efectuar a inscrição, basta aceder ao sítio www.escolavirtual.pt e preencher o formulário de registo. Cada vale de compra é válido para a aquisição de uma das disciplinas disponibilizadas pelo serviço. Cada disciplina de português, por exemplo, está estruturada em aulas interactivas, em que animações, imagens e locuções explicam os conteúdos e os conceitos fundamentais. Em cada aula, serão disponibilizados diversos tipos de exercícios, com soluções e avaliação imediata. Se os alunos quiserem avaliar os conhecimentos adquiridos, poderão inscrever-se para um exame presencial, da responsabilidade das Universidades Lusíada e Aberta. O exame será realizado na embaixada ou no consulado português mais próximo da área de residência do aluno. Em caso de aprovação, o aluno receberá um certificado comprovativo do nível obtido, de acordo com o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, aprovado pelo Conselho da Europa. A Escola Virtual - Comunidades Portuguesas é uma iniciativa conjunta do Gabinete do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, do Ministério da Educação, da Caixa Geral de Depósitos, da Porto Editora, das Universidades Lusíada e Aberta e da RTP.
------------------ Por : Margarida Mota In : Expresso Online 17:25 21 Outubro 2005

sexta-feira, outubro 14, 2005

Ensino Multilingue Na União Europeia

O Parlamento Europeu aprovou hoje, por maioria, o relatório sobre educação apresentado pelo eurodeputado do Bloco de Esquerda, Miguel Portas, que defende um sistema de ensino multilingue. "O relatório foi integralmente aprovado hoje por larga maioria, com o apoio de todos os grupos parlamentares, excepto da extrema-direita", disse Miguel Portas à Lusa. O documento defende um sistema de ensino multilingue em escolas da União Europeia (UE) para melhorar a integração dos filhos dos imigrantes e insiste em que os Estados membros devem "promover, nos estabelecimentos de ensino, medidas que assegurem a diversidade linguística, não limitando às línguas europeias mais faladas a escolha das alternativas à língua oficial". De acordo com Miguel Portas, a principal proposta consagrada no documento é a de a União Europeia apoiar financeiramente escolas que pretendam desenvolver projectos educativos multilingues. "É uma ideia para concretizar no futuro", disse o eurodeputado bloquista, acrescentando que "as escolas interessadas poderão apresentar projectos de aprendizagem integrada de línguas comunitárias". Em vez de serem apresentados aos respectivos Governos, os projectos poderão ser entregues à UE, que pode decidir apoiá-los, explicou. Miguel Portas destacou ainda dois pontos do documento, que considera "muito importantes e realizáveis a curto prazo". "Esta é a primeira vez que um documento da União Europeia considera que os filhos dos imigrantes, mesmo que ilegais, tenham direito a frequentar o ensino público nas escolas da União Europeia", disse. Portas sublinhou ainda que o relatório consagra o direito aos filhos dos imigrantes aprenderem não só a língua do país de acolhimento mas também a língua materna. "Mesmo quando os filhos de imigrantes dominam a língua do país de acolhimento, as escolas básicas e secundárias devem ter condições para que a cultura e línguas maternas possam constituir uma real opção, em particular nas cidades e regiões onde os imigrantes representem, pelo menos, cinco por cento da população em idade escolar", especifica o relatório. Referindo-se especificamente a Portugal, Miguel Portas afirmou que "é preciso, em algumas escolas, ter uma política dirigida à língua materna que não é o português". Para o eurodeputado, "não se trata de encarar a segunda língua como uma língua estrangeira, mas sim como uma língua parceira". O relatório do eurodeputado bloquista hoje aprovado surgiu após uma série de audições sobre o ensino para os filhos dos estrangeiros em diversas capitais europeias, entre as quais Lisboa.
- - - - - - In Público OnLine

A Lusofonia Faz Apelo À FIFA

Excelentíssimos, Considerando que vão estar presentes na fase final do Campeonato Do Mundo de Futebol - "Alemanha 2006", três países de língua oficial portuguesa (Portugal, Brasil e Angola), países que, tal como Guiné-Bissau, Cabo Verde, S.Tomé E Principe, Moçambique, Timor e Macau fazem parte da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa). Considerando, também, que existem cerca de 210 milhões de falantes da Língua Portuguesa, quer seja nos seus países de origem, ou espalhados pelos quatro (ou cinco...) cantos do mundo. Considerando, ainda, que estes milhões de pessoas, na maior parte afixionados dessa grande modalidade desportiva que é o Futebol, gostariam de acompanhar o evento, na sua própria língua, através do Site Oficial do "Alemanha 2006" que vai, certamente, ser o principal meio de comunicação a dar informações e notícias em primeira mão. Considerando, finalmente, que a Língua Portuguesa é uma língua universal de facto, e o deve ser também de direito. Eu, em meu nome pessoal, e em nome desses 210 milhões de pessoas espalhados pelos quatro (ou cinco...) cantos do mundo, rogo a V.Exas se dignem reformular o site, incluindo o Português como idioma de escolha para todos e quaisquer textos nele apresentados. Certo da justeza do pedido e do seu bom acolhimento, apresento antecipadamente os meus agradecimentos.
Bem Hajam Carlos Pereira (aka Paralaxe) Apelo Directo À FIFA em 3) escolher : Can I get involved in the 2006 FIFA World Cup ?

quinta-feira, outubro 13, 2005

A República Literária e a Lusofonia

Sinopse A leitura da bibliografia recente sobre a lusofonia, produzida em Portugal, permite afirmar que não existe uma noção comum para os integrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. As notícias sobre esta matéria, regularmente difundidas pela comunicação social, as conclusões de congressos, simpósios e encontros lusófonos, e mesmo a experiência quotidiana pessoal confirmam esta observação, podendo concluir que a lusofonia é um conceito em construção e um espaço de relações a desenvolver. Se quisermos dar um futuro ao nosso passado comum, o modelo de relações e a sua posta em prática deverá ser comumente discutido e aplicado por todos os países que o integram. A história cultural da Europa oferece na República das Letras um exemplo para a lusofonia, entendida como República Literária em português. Surgida no último renascentismo -em grande parte, como consequência desta etapa-, no contexto das guerras de religião do século XVI, simultaneamente entre o público e do privado, realizando o ideal da unidade e fraternidade das pessoas, em rigorosa crítica do estado absolutista e a sociedade de classes, prolongou-se até meados do século XVIII, em que o iluminismo logrou transformar a cultura e as nações. Ainda depois dessa altura histórica, a sua continuidade foi garantida pela permanência dos valores que representou. No seu seio, e entorno ao latim como língua comum, produziu-se o humanismo vulgar (e, dentro deste, a gramaticalização das línguas vulgares), nasceu uma forte consciência europeia e criaram-se as literaturas modernas, até à chegada dos movimentos nacionalistas que organizaram a Europa contemporânea. Longe do saudosismo por uma antiguidade idealizada, o conhecimento da nossa história cultural pode fornecer alguns exemplos notáveis que podem ajudar a pensar a lusofonia do presente. ....................... 2. A lusofonia presente Para além da distância sociológica e política que a história determina, o maior contraste entre a República Literária latina e a lusofonia é que, enquanto aquela era promovida, e desenvolvida por indivíduos organizados com relativa independência dos estados, nesta, a maior parte das iniciativas pertence aos governos. O mais ambicioso destes projetos é a Comunidade de Países de Língua Portuguesa. O exercício habitual nos artigos de opinião sobre a CPLP é a reflexão sobre a sua unidade e sentido, em comparação com a francofonia, a hispanofonia, a Commonwealth, ou outros espaços e organizações multinacionais constituídos durante o século XX. O senso comum diz-nos que, nas antigas metrópoles, a reflexão sobre o passado colonial resulta mais fácil e acertada quanto maior for a distância temporal do observador. No caso de Portugal, trinta anos parece um prazo insuficiente para ultrapassar os traumas do passado colonial. No nível da investigação universitária, resulta chocante a escassez ou, por acaso, a dificuldade de acesso a estudos sobre a história sociolinguística do português em África e Ásia. Isto resulta mais evidente considerando a ampla bibliografia existente nos casos do inglês (xix) e o francês (xx). No nível do estado, contra o que estabelece a Constituição portuguesa, a política oficial de passividade na defesa e promoção da língua apenas é quebrada pela teimosia dos novos países africanos ou Timor que, depois de muita insistência, recebe alguns professores de língua, contudo, insuficientes para atender a demanda. Estudarmos a CPLP (mais projecto do que realidade) apenas como facto presente, sem acompanhá-la de uma explicação do passado, seria equivalente a apresentar esta entidade internacional como novidade histórica absoluta.Este discurso, carente de perspetiva, contém o mesmo intuito legitimador do modelo nacional de organização das sociedades europeias, iniciado com a revolução francesa. A consolidação das línguas nacionais nos seus respectivos territórios veio acompanhada do progressivo abandono do ensino do latim, até à sua total supressão do bacharelato. Este facto, acompanhado pelo alargamento do sistema de ensino primário facilitou a alfabetização maciça da população. Durante o século XX as histórias da língua ignoraram o facto de o português ter convivido, secularmente, com a língua comum europeia, numa distribuição de funções variável, mas permanente nos âmbitos universitário e institucional. Afirmar que, por séculos, o português não foi em Portugal a única língua da cultura é uma forma de tornar relativa a sua importância, e talvez isto seja incómodo e irreverente para a história oficial, caracterizada pela pretensão de unanimidade, interpretando o passado em função do presente. Mas isto não é só característico de Portugal. No nosso continente, a importância do latim no passado continua a ser tratada como assunto anedótico, residual ou mesmo inexistente. Na República Literária, observámos um exemplo histórico de um grupo de países relacionados, no plano académico e cultural, por uma língua comum. Pessoas de países e religiões diferentes mantiveram um diálogo permanente, criando uma rede de relações independente e duradoura. A lição que podemos tirar para a lusofonia presente é que só convertendo a sociedade em protagonista principal lhe poderemos dar um conteúdo duradouro. Só levando a iniciativa dos governos para um segundo plano é que a lusofonia poderá ter um futuro claro. Depois do período histórico do nacionalismo (1789-1989), universalmente difundido, em que cada nação pretendia representar o mundo em todos os sentidos, parece chegada a altura de abandonar o modelo de língua como propriedade nacional. Neste sentido, um recente artigo de Fernando Cristóvão incide na ideia da república do português, explicada pelo modelo dos círculos concêntricos. Na sua comunicação ao encontro A Língua Portuguesa: presente e futuro, Solange Parvaux (xxi) realizava umas propostas para uma política da língua que me parecem da maior sensatez, e que assumo como próprias: 1.«A nível da CPLP, a medida prioritária é a aplicação do Acordo Ortográfico de 1990». Acrescentamos que a Galiza participou na sua elaboração através da Comissão Galega do Acordo Ortográfico. 2.«O estabelecimento de acordos entre os países lusófonos nos exames para a certificação dos conhecimentos de português-língua estrangeira...» 3.«Definir regras, em comum, para a integração das palavras estrangeiras». É nas linguagens técnicas que precisamos de uma maior unidade de critério. A criação do Instituto Internacional da Língua Portuguesa deveria facilitar esta aproximação entre as variantes americana e europeia da nossa língua.
- - - - - - - - - - Excertos de : "A República Literária e a Lusofonia - Semelhanças, diferenças e exemplos" Autoria : Ângelo Cristóvão Publicação : IV Colóquio Anual da Lusofonia (Bragança); 3-4 Outubro 2005 Artigo Completo em : Questione Della Lingua (v2)

segunda-feira, outubro 10, 2005

As Criança

Quando se lê o título deste texto, afirmar-se-á, de imediato, que existe ali um erro; mais concretamente um erro de sintaxe, pela não concordância de número entre o artigo e o substantivo; para ficar gramaticalmente correcto, deveria escrever-se "as crianças", ou "a criança". Contudo, está presente quem me pediu, melhor dizendo, quem me obrigou a colocar assim o título (ele está sempre presente quando escrevo), e que me diz: "é dessa maneira que o quero escrito não faça qualquer tipo de alteração pois só assim eu consigo transmitir completamente as emoções que sinto e senti quando fui envolvido naquele acontecimento que transcende todo o tipo de racionalidade" E eu não altero... "a gramática é um espartilho que limita e distorce a realidade dos factos da história do tempo das contradições das angústias do choque das ligações entre o passado e o futuro a memória a imaginação a estabelecer uma ordem onde ela não existe no caos fervilhante das sinapses do pensamento emotivo" Espere, deixe-me colocar a pontuação... "ao diabo com a gramática escritor dum raio surdo e impertinente me ralam as pontuações que não sou reles escriba que se preocupa com caracteres gráficos com pontos e vírgulas com sintagmas rio choro tenho um coração uma alma alegrias tristezas angústias sentimentos em catadupa que se misturam se contradizem se negam" Eu remeto-me à minha modesta condição de relator, e continuo a transcrever... "vi a criança perdida no meio da linha do comboio só desamparada foi a criança outra que vi foi a criança neta que vi uma criança que era as duas uma outra ao mesmo tempo qual reverso das visões de um alcoolizado que vê em duplicado o objecto físico do seu campo de visão e peguei na criança ao colo e fugi com ela para a gare foi a criança neta que estreitei nos braços foi a criança outra que confortei a criança neta que salvei a criança outra a quem emprestei um avô momentâneo a criança neta a quem perguntei pela mãe" Eu só passo para o papel o que ouço, e nada mais... "a menina outra neta apontava para aqui para acolá para o sítio onde estaria a mãe que deveria estar ali com ela mas não estava com a menina neta outra ao colo de um avô que não era que o foi esperando a mãe que era sem ter sido homem neta criança avô envoltos num laço deslaço emocional de ligações perdidas achadas que faz parar o tempo e encurta o espaço" Eu não interrompo, continuo a relatar... "a mãe apareceu aflita chorosa o melhor do mundo são as crianças também choro por ti que as abandonas as maltratas as conspurcas homem com h pequeno pequeníssimo avo de ser racional em nome autoaplicado sem actos inconstante inconsciente por elas que te crêem te adoram te respeitam idolatram imitam na sua cândida ingenuidade simplicidade de rebento indefeso" Eu não concordo, nem discordo; como diria Pessoa : eu escrevo... "levei a criança outra a casa da criança neta em pensamento que me saltou para o pescoço e abracei e beijei a criança outra em pensamento na criança neta e a criança neta que não a outra em pensamento abrimos os presentes da criança neta que não a criança outra que também lá estava em pensamento e as criança brincou com os brinquedos de ambas em pensamento..." Não quero fazer futurologia, mas estou em crer que estas crianças , sem o saber, vão ficar ligadas para sempre, como siamesas espirituais, até ao fim da vida deste homem avô; se ele entretanto não vier a sofrer da Doença de Alzheimer...

quinta-feira, outubro 06, 2005

Os Livros

Os livros comportam-se exactamente de maneira contrária aos pombos-correio: vende-se um pombo-correio de manhã, e à tarde ele volta (dá lucro...); compra-se um livro de manhã e à tarde já temos um "amigo" a pedir emprestado, que nunca mais o devolve (dá prejuizo...). Refiro-me aqui ao lucro pessoal: financeiro (no primeiro caso) e financeiro e cultural (no segundo). Existe prejuízo financeiro quando ficamos com menos valor do que tinhamos antes da operação (no caso em apreço, ficamos sem o valor que demos pelo livro, e sem o livro); existe ganho financeiro quando aumentamos (no caso em apreço, ficamos com o dinheiro da venda do pombo-correio, mais o pombo-correio; é como "roubar galinhas e vendê-las ao dono"). Existe prejuízo cultural quando ficamos privados da aculturação inerente à leitura de (quase) qualquer livro, a meio do processo de tomada de conhecimentos, livro esse que tivemos o interesse e o gosto de comprar, pelo simples facto de o emprestarmos apressadamente (embora com todo o gosto, não duvido...) a um "amigo" "interessado" no seu conteúdo; enquanto o livro não é devolvido (se o for...) ficamos a remoer na "metade" que já lemos, tirando (mesmo que inconscientemente) ilacções erradas ou erróneas, por não termos abarcado a obra no seu todo; quando o livro é devolvido, ficamos contentes e eufóricos (porque gostamos do assunto de que trata), e reactamos a leitura, quase de imediato, na tentativa de diminuir o hiato de tempo gasto, e encontrar novamente "o fio da meada"; se o interesse for muito forte, opressivo, apressamo-nos a dar uma saltada à livraria, comprando outro exemplar pois, para quem gosta de livros, é sempre muito mais fácil (psicológicamente falando...) gastar mais uns "cobres" do que privar o detentor do livro dessa aculturação que tanto prezamos. Existe lucro cultural quando ficamos mais "ricos" em conhecimentos, em espírito crítico, em aprimoramento da fala e da escrita, em discernimento na leitura, em melhoria na análise do mundo que nos rodeia, em cultura; este valor, por meio dos livros, é sempre muito maior, e tem muito mais "peso", do que o valor monetário que demos pela compra do livro; Eu não tenho nada contra emprestar ou dar livros, desde que esse empréstimo, ou essa dádiva, sirva para o aumento da "riqueza" cultural de quem os toma por emprestados, ou de quem os recebe como oferta. No entanto, devemos ser pragmáticos; na maioria das vezes, o interesse do "interessado" no nosso livro vem simplesmente da assumpção de que o conteúdo talvez valha a pena uma leitura, porque nós o compràmos; ele não pergunta : " - onde compraste essa obra ? quero ir lá comprar um exemplar para mim !"; tomando o livro emprestado, a meio da leitura do proprietário, ele não diz " - acaba de ler primeiro, emprestas-mo quando tiveres acabado de ler..."; não, ele aceita ! Tive um colega de escritório que supesava os livros e conferia o número de páginas para julgar sobre o seu "valor", em face do preço do mesmo; para ele, um romance de "cowboys" com 500 páginas valeria muito mais que uma simples folha de papel, velha e suja; não importando que essa folha contivesse as fórmulas da Teoria Da Relatividade de Einstein... Além disso, há bastantes livros nos escaparates cujo conteúdo é autêntico "lixo", sendo a sua compra um "luxo", qualquer que seja o valor que gastemos; lendo esses livros ficamos embrutecidos, confundidos, enganados; ficamos culturalmente mais pobres. No jornal "24 horas" (edição de hoje, ou de ontem) vem, na primeira página, uma notícia sobre a escritora Margarida Rebelo Pinto; a notícia diz, em resumo, que uma professora universitária garante que os livros da M.R.P. têm muitos erros e são auto-reciclados; quer dizer, ela copia temas e partes de romances anteriormente escritos por ela, baralha e torna a dar... um romance "novo"; não sei se a análise é correcta ou não, porque não os leio, mas acredito que a falta de assunto, a "facilidade" da escrita e as pressões das editoras venham a dar nisto. O que escrevi acima acerca do lucro ou prejuízo de emprestar ou dar livros, só se refere a livros ainda em processo de leitura e cimentação dos textos, e não dos livros já lidos, estudados e assimilados, que vão para a prateleira da estante fazer companhia aos outros que lá estão; velhos, tristes, quedos, moribundos, esperando ansiosamente um mero olhar que se fixa, uma mão que se aproxima, uns dedos que folheiam; nessa altura eles rejuvenescem e brilham, qual fénix renascida; nessa altura, a sua alegria é tanta que chega, muitas vezes, a transbordar para o leitor putativo; os livros são "cidadãos do mundo", gostam de viajar, de conhecer novas gentes, novas culturas, novos pensamentos, novas idéias. Mas os livros precisam ter muito cuidado com as mãos que os agarram; é por isso que eles não chamam todas as pessoas que lhes passam em frente; esperam ansiosa e pacientemente pelo seu eleito; aquele que lhes vai dar um novo ânimo, tratando-os com o respeito que merecem, e tirando o devido proveito da sua verve; às vezes enganam-se (até os livros se enganam...) e acabam servindo de apoio na mudança de uma lâmpada, ou virados e revirados numa qualquer fotocopiadora de província ou, pior ainda, despedaçados e atirados para a fogueira, por via de um qualquer index fundamentalista; para isso, mais valia que os deixassem na sua dormência e quietude até ao final dos tempos...

quarta-feira, outubro 05, 2005

Ecos De Bragança - IV Colóquio Da Lusofonia (2)

Timor-Leste: D. Ximenes Belo pede maior investimento na língua portuguesa O bispo resignatário de Dili, D. Ximenes Belo, pediu hoje em Bragança um maior investimento dos governos de Portugal e Timor-Leste no ensino da língua portuguesa aos timorenses. Para o Prémio Nobel da Paz, o futuro do português, que os timorenses adoptaram como língua oficial, depende dos dois governos, português e timorense, porque "há, naturalmente, vontade de aprender, de conservar, mas por outro lado precisa-se de ajuda e de políticas para a manutenção da língua em Timor-Leste". "Tem havido apoio, mas é preciso investir mais e sobretudo investir nos timorenses, que haja mais professores de português, que haja mais bibliotecas, que haja, enfim, uma coisa intensa" disse, à margem da sessão de encerramento do IV Colóquio da Lusofonia, em Bragança, onde durante dois dias se debateu sobre a língua portuguesa em Timor-Leste. Para o antigo bispo de Dili "não chega" haver professores portugueses em Timor-Leste:"é preciso formar timorenses, é preciso criar bibliotecas, infra-estruturas e, sobretudo, manter alguma rádio, televisão e diários para que se faça entrar a língua espontaneamente na mente das pessoas". D. Ximenes Belo recordou depois ao auditório que os timorenses continuaram a baptizar os filhos com nomes portugueses e a rezar e cantar em português, mesmo durante a proibição, entre 1975 e 1999, mas disse que a ocupação indonésia deixou marcas. "Vocês querem que os timorenses falem a vossa língua, mas os timorenses apanharam bofetadas, foram torturados por falarem a vossa língua", disse. A disputa também de outras línguas, nomeadamente o inglês, compreende-se, na opinião de D.Ximenes Belo, que recordou que Timor está numa zona com vizinhos como a Austrália, Filipinas, Singapura, Tailândia, Hong Kong, onde as pessoas falam esta língua. "Mas Timor foi sempre parcela especial com ligação a Portugal e mantendo o português constituiu uma dimensão própria daquela pequena nação", considerou. Mesmo com o passado histórico de séculos de colonização portuguesa, D. Ximenes considera que o português não é tão fácil assim para os timorenses. "Os timorenses acham mais fácil o indonésio porque não tem conjugações, não é tão complicado como o português, mas é preciso apostar" afirmou. D. Ximenes Belo escusou-se a comentar questões políticas ou sociais do país, afirmando estar há três anos fora, em Moçambique, e ter "poucas notícias" (de Timor). Disse, no entanto, que a sua preocupação é que haja paz, tranquilidade e reconciliação em Timor e que os jovens tenham trabalho. Escrito por : HFI - Notícia SIR-7376407 In Agência Lusa - 05-10-2005 / 0:32:00

terça-feira, outubro 04, 2005

Ecos De Bragança - IV Colóquio Da Lusofonia

Língua portuguesa será dominante em menos de uma década em Timor-Leste.

A embaixadora de Timor-Leste em Portugal, Pascoela Barreto, admitiu hoje que, em menos de uma década, a língua portuguesa falada actualmente por um quarto dos timorenses deverá ser generalizada a todo o país. A diplomata admitiu que o português ainda não faz parte do quotidiano dos timorenses, mas assegurou que o governo de Timor-Leste "está a tomar medidas" para que dentro de alguns anos isso seja uma realidade. A embaixadora falava na abertura do IV Colóquio da Lusofonia, em Bragança, que vai debater hoje e terça-feira a realidade de um país - Timor-Leste - que adoptou como oficial uma língua que não é falada pela maioria dos seus habitantes. Os timorenses expressam-se, maioritariamente, em tétum. Segundo Pascoela Barreto, "há ainda alguma resistência à aprendizagem do português, devido aos 24 anos de ocupação indonésia, durante os quais a língua portuguesa foi proibida". "Esta reintrodução [do português] acaba por ser um pouco mais difícil, porque muitos dos nossos jovens fizeram a sua formação na língua indonésia, mas as nossas crianças até ao sexto ano já aprendem o português e portanto todo o ensino é feito em língua portuguesa", disse a diplomata à agência Lusa. A embaixadora timorense acredita que esta geração contribuirá para que dentro de "cinco, seis ou sete anos o português seja uma realidade generalizada no quotidiano de Timor-Leste". A diplomata realçou também o empenho e espírito de sacrifício e de missão dos professores portugueses que estão a ensinar a língua e a formar os professores" do seu país. "Portugal tem feito um grande esforço nesta recuperação da língua portuguesa, mas também não quero deixar de enaltecer as iniciativas dos outros países da CPLP [Comunidade de Países de Língua Portuguesa], nomeadamente o Brasil, assim como os outros países", afirmou. Além do ensino, Pascoela Barreto realçou o "esforço" que o Governo timorense está a fazer para o desenvolvimento da língua portuguesa, fazendo questão de que todos os documentos oficiais sejam escritos em português. "Há, pelo menos, esse esforço de ir transpondo para o português toda a documentação oficial, incluindo a legislação", disse. A Justiça é "uma das aéreas sensíveis em que, para a embaixadora, Timor precisa de continuar a contar com a ajuda" lusófona. Os magistrados timorenses estão actualmente a receber formação, enquanto que os tribunais funcionam essencialmente com juristas de outros países. Pascoela Barreto espera que, também em menos de uma década, a língua portuguesa seja a língua usada nos tribunais de Timor-Leste. O número de falantes do português em Timor-Leste tem vindo a aumentar desde a independência do país, em 1999, estimando-se que passou de entre a cinco a dez por cento para 25 por cento da população - um em cada quatro timorenses. A organização do colóquio da lusofonia, a cargo da Câmara de Bragança e da Fundação "Os nossos Livros", entende que a acção da Igreja Católica contribuiu para que a língua portuguesa se mantivesse em Timor, mesmo durante a ocupação indonésia. Daí a relevância atribuída à presença, em Bragança, do bispo resignatário de Díli e Prémio Nobel da Paz, D. Ximenes Belo, que é o convidado especial no segundo dia de trabalhos, terça-feira.
Por : HFI -Bragança, 03 Out - Agência Lusa